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A odisséia


index do verbete
(Odysseus and his men blinding the cyclop Polyphemus detail of a proto-attic amphora c. 650)

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Odisseu (gr. Ὀδυσσεύς, lat. Ulisses) é um dos personagens mais importantes do ciclo troiano. Partes de seu mito, como a convocação para a luta em Tróia e sua decisiva participação no último ano da guerra e na queda da cidadela foram já relatados em outras sinopses. Mas foi o longo e atribulado retorno a Ítaca, seu lar, que o celebrizou.

As maravilhosas viagens de Odisseu e suas aventuras e peripécas, que duraram um total de dez anos, foram imortalizadas por Homero na Odisséia e constituem um dos maiores legados da Antiguidade à cultura ocidental.


Ulisses e as sereias

Odisseu, o errante

Após a queda de Tróia, os navios de Odisseu seguiram a frota de Agamêmnon mas, por causa de forte tempestade, separaram-se e chegaram à terra dos Cícones, aliados dos Troianos, no litoral da Trácia. Odisseu atacou e saqueou algumas cidades, mas acabou sendo repelido e retomou o caminho.

Forte ventania impeliu os navios ao país dos Lotófagos ("comedores de lótus"), onde foram todos bem recebidos. Depois de algum tempo, a tripulação não queria mais ir embora, pois o delicioso lótus produzia o esquecimento e o desejo de ficar. Odisseu teve que levar seus homens à força para os navios e, após alguns dias de viagem, chegou à ilha dos Ciclopes.

A ilha parecia um paraíso, com numerosos rebanhos de cabras selvagens e árvores frutíferas que floresciam constantemente sem necessidade de cuidados. Odisseu e alguns de seus homens abrigaram-se em uma gruta onde havia cabras e queijos, levando vinho para presentear quem lá encontrasse em troca da hospitalidade. O ciclope Polifemo, o dono da casa, era porém antropófago e, depois de fechar a entrada com pesada pedra, devorou dois ou três tripulantes. Odisseu, sem perder o sangue frio, logrou embebedá-lo e, enquanto Polifemo dormia, furou seu único olho com um tronco de ponta afiada. Quando o ciclope retirou a pedra para deixar sair o rebanho, todos escaparam escondidos embaixo dos animais. Mas Polifemo era filho de Posídon e, com isso, Odisseu cai no desagrado do deus.

A seguir os navegantes chegaram à ilha de Éolo, senhor dos ventos, que presenteou Odisseu com um odre que continha poderosos ventos e com uma suave brisa que o impeliu diretamente a Ítaca. O herói adormeceu quando os navios se aproximavam da ilha e seus companheiros, pensando que o odre continha riquezas, abriram-no. Libertados, os ventos sopraram furiosamente e arremessaram-nos novamente à ilha de Éolo, que se recusou a ajudá-los de novo, uma vez que os deuses estavam tão claramente contra eles...

Dias depois, os navios chegaram à terra dos Lestrigões, gigantes antropófagos que devoraram imediatamente o mensageiro enviado por Odisseu e lançaram enormes pedras sobre as naus. Apenas o navio de Odisseu conseguiu escapar, a toda velocidade, e mais tarde aportou em Eéia, ilha onde vivia a feiticeira Circe, filha de Hélio. Um grupo que desembarcou para reconhecer o terreno foi recebido amistosamente por Circe em seu maravilhoso palácio. A feiticeira ofereceu comida e bebida, a qual continha uma certa poção e, com sua varinha ágica, transformou todos em porcos e guardou-os no chiqueiro. Somente Euríloco, o líder do grupo, conseguiu escapar e avisar os demais.

Odisseu dirigiu-se destemidamente ao palácio, afim de libertar os companheiros. No caminho, Hermes o aguardava e fê-lo comer a planta moly, poderoso antídoto contra as poções de Circe, e aconselhou-o a ameaçá-la firmemente com a espada. Circe fingiu recebê-lo com hospitalidade e, ao se ver ameaçada pela espada depois da poção ter falhado, fez seus companheiros voltarem ao normal e hospedou a todos durante meses — ou anos. Segundo a tradição, a feiticeira enamorou-se de Odisseu e teve um filho dele, Telégono. Quando Odisseu quis partir, Circe aconselhou-o a ir antes ao Hades para consultar a sombra do adivinho Tirésias, o único que poderia confirmar se um dia encontraria o caminho para Ítaca.

O herói conseguiu chegar ao Hades onde, além de Tirésias, encontrou a sombra de várias heroínas e de heróis já mortos, como Alcmena, Jocasta, Agamêmnon, Aquiles e Ájax, e também a de Anticléia, sua mãe, que ainda estava viva quando ele havia partido para Tróia. Tirésias profetizou toda sua atribulada volta e, de volta à ilha de Circe, a feiticeira então ensinou-lhe o caminho a seguir.

De novo a caminho, o navio de Odisseu passou pelas sereias, cujo canto só não foi sua perdição porque a tripulação tapou os ouvidos; por Caríbdis, o gigantesco rodamoinho; por Cila, terrível monstro de várias cabeças que devorou alguns membros da tripulação, e finalmente chegou a Trinácia, ilha onde o deus Hélio guardava seus rebanhos. Avisado por Tirésias, Odisseu proibiu os companheiros de mexerem nas reses do deus, mas os homens estavam tão famintos que, quando o herói adormeceu, mataram algumas vacas para se alimentar. Furioso, Hélio queixou-se diretamente a Zeus, que enviou uma tempestade que destruiu o último navio de Odisseu. Com exceção do herói, que não tocara nas vacas sagradas, todos pereceram.



A custo, Odisseu sobreviveu à tempestade, agarrado a um pedaço do navio. Depois de nove dias, chegou à ilha de Ogígia, lar da ninfa Calipso, que o acolheu, enamorou-se dele e o reteve ali durante nove anos. De acordo com variantes tardias da lenda, Odisseu e Calipso tiveram muitos filhos.

Interlúdio em Ítaca

Enquanto isso, em Ítaca, a família de Odisseu estava com muitos problemas. Todos os heróis que haviam sobrevivido à conquista de Tróia haviam já retornado e, devido à falta de notícias concretas, muitos o consideravam morto. Anticléia, a mãe de Odisseu, havia morrido de tristeza; o pai, Laerte, recolhera-se a uma propriedade longínqua, no campo, e não falava com ninguém. Telêmaco (gr. Τηλέμαχος), o bebê que Odisseu deixara ao embarcar para Tróia, já um rapaz, ressentia-se da falta do pai. E Penélope, a fiel esposa do herói, aos olhos de quase todos uma viúva bela e rica, começou a ser insistentemente assediada por numerosos pretendentes de Ítaca e das ilhas vizinhas.



A pressão dos pretendentes se tornou cada vez mais intensa e mais ameaçadora. Penélope tentou enganá-los, afirmando que quando acabasse de tecer a mortalha do velho Laerte escolheria um deles. Para ganhar tempo, o que ela tecia durante o dia, desfazia durante a noite mas, graças à traição de uma das servas, o estratagema foi descoberto. Os pretendentes se instalaram então no palácio de Odisseu, consumindo suas riquezes em banquetes e festas sem fim, e anunciaram que só sairiam dali quando Penélope escolhesse um deles.

Telêmaco, sozinho contra todos, nada podia fazer, e logo os pretendentes começaram a tramar sua morte. Aconselhado por Atena, o jovem conseguiu porém arranjar um navio e partiu, em viagem que durou cerca de um ano, à procura de notícias do pai. Foi muito bem recebido pelo velho Nestor, em Pilos, e também por Menelau e Helena, em Esparta, mas não obteve notícias consistentes sobre o paradeiro de Odisseu.

Enquanto Telêmaco voltava para Ítaca, no vigésimo ano da ausência do pai, os deuses decidiram que já era hora de Odisseu voltar para casa. Os feácios ajudaram-no a chegar em Ítaca, mas em seu palácio o mar realmente não estava para peixe...

Odisseu em Esquéria


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Zeus, a pedido de Atena, ordenou que Calipso liberasse Odisseu. A contragosto, a ninfa o ajudou a construir uma jangada e ele se lançou ao mar. Posídon, ainda furioso, enviou forte tempestade mas, com a ajuda de Leucotéia, o herói sobreviveu e, mais morto que vivo, conseguiu chegar a Esquéria, terra dos feácios.

Esquéria era uma terra tão maravilhosa como a ilha dos Ciclopes, mas muito mais civilizada; os feácios, embora humanos, eram aparentados aos deuses e conviviam diretamente com eles. O rei se chamava Alcínoo e tinha uma bela filha, Nausicaa, que encontrou Odisseu na praia. O herói, nu e desamparado, suplicou-lhe auxílio, e a jovem encaminhou-o ao palácio do pai. Odisseu foi bem tratado e, depois de contar ao rei e aos nobres feácios todas as suas aventuras, recebeu muitos presentes e a promessa de que seria levado até sua terra.

Odisseu adormeceu durante a viagem de volta, mas os marinheiros feácios levaram-no sem problemas até Ítaca e deixaram-no na praia, junto com os presentes recebidos. O ódio de Posídon, porém, não acabara: quando o navio retornou, o deus transformou-o em pedra e cercou a ilha dos feácios de altas montanhas. Esquéria nunca mais seria encontrada por nenhum viajante.

Odisseu em Ítaca

O herói acordou em Ítaca, depois de vinte anos de ausência, e foi recebido pela deusa Atena, que mudou suas feições e o vestiu como um velho mendigo, para que os pretendentes não o reconhecessem.

Odisseu procurou então Eumeu, o porqueiro-chefe, um de seus mais fiéis servidores. O velho não o reconheceu, mas recebeu-o com hospitalidade e o pôs a par dos problemas de sua família. Telêmaco, que acabara de chegar da viagem a Esparta, foi à casa do porqueiro para pedir que avisassem Penélope de sua volta e encontrou-se com o "velho mendigo". Odisseu revelou-se apenas a ele e juntos, pai e filho, planejaram o castigo dos atrevidos pretendentes.

Ainda disfarçado, Odisseu se dirigiu ao palácio e, fingindo esmolar, foi destratado pelos pretendentes, que o agrediram e zombaram dele. Telêmaco exigiu que ele fosse tratado como um hóspede e, quando Penélope ordenou que Euricléia, uma velha serva, lavasse os pés do hóspede, o disfarce quase foi descoberto. Euricléia cuidara dele quando pequeno e reconheceu uma cicatriz em sua perna; calou-se a custo, jurou nada revelar e prometeu ajuda. Mais tarde o herói encontrou Penélope e, sem se dar a conhecer, disse-lhe que o marido ainda vivia e tentava retornar à sua terra.

Penélope, porém, estava no limite de suas forças. Contou ao mendigo que, no dia seguinte, instituiria um concurso entre os pretendentes e se casaria com o vencedor. Odisseu incentivou-a, mas ordenou ao filho e a Euricléia que, durante a prova, fechassem bem as portas do salão e escondessem todas as armas. Revelou-se também a Eumeu e a outro servo fiel, Filécio, e lhes disse que se preparassem para o dia seguinte.


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O concurso consistia em atirar uma flecha, com o poderoso arco de Odisseu, de modo que ela atravessasse o orifício de doze machados enfileirados e cravados no chão. Nenhum dos pretendentes logrou ao menos armar o grande arco e, então, o "mendigo" pediu que o deixassem tentar. Em meio a risadas, entregaram-lhe o arco, mas depressa emudeceram quando Odisseu vergou-o sem esforço e disparou uma flecha que atravessou todos os machados. As portas estavam já fechadas e as armas dos pretendentes, escondidas. Odisseu voltou ao que era e, auxiliado pelo filho, por Eumeu e por Filécio, matou todos os pretendentes. Telêmaco também matou diversos servos e servas do palácio que haviam se mancomunado com os falecidos.

Retirados os cadáveres e purificado o aposento, Odisseu reencontrou a fiel esposa e, mais tarde, foi ao encontro do velho pai. Quando os parentes e amigos dos pretendentes atacaram o palácio, em busca de vingança, Atena e Zeus impediram o conflito, impuseram uma reconciliação e a paz finalmente retornou a Ítaca.

f.: Portal grécia antiga
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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