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A teoria do amor na psicanálise



index do verbete
Ticiano, 1490-1576. Amor sagrado e amor profano. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/sacred-and-profane-love-1514.jpg

A CONCLUSÕES PESSOAIS:


1 Parece dizer: há o amor-amor e o amor-paixão.

2 No primeiro o amador sabe que não existe o que ele deseja; o amor é sublimação.

3 No segundo, o amador nega a impossibilidade da sua satisfação e idealiza o amado como sendo a fonte do que falta (v. p. 22).

B AMOR & CASTRAÇÃO


4 Ama-se para aceitar as meias-verdades ou se ama para encontrar toda a verdade. Tudo depende da posição subjetiva em relação à castração.

5 O processo de humanização do ser falante se caracteriza pela inscrição no mundo dos símbolos, o qual só existe porque há a linguagem. “Processo de humanização” se torna então sinônimo de constituição de uma estrutura psíquica, que é formada pelo simbólico (universo da palavra e da lei), pelo imaginário (campo do sentido e da imagem corporal) e pelo real (registro do impossível). Castração, então, deve ser entendida como a inserção do real como representante do impossível nessa estrutura psíquica.

6 Diante dos enigmas da existência no mundo — porque se ergue um muro intransponível chamado real —, o amor se articula com o desejo.

7 Amar coloca em cena dois lugares: sujeito (amante) e objeto (amado). Aquele sobre o qual se abate a experiência de que alguma coisa falta, mesmo não sabendo o que é, ocupa o lugar de amante. Aquele que, mesmo não sabendo o que tem, sabe que tem alguma coisa que o torna especial, ocupa o lugar de amado. O paradoxo do amor reside no fato de que o que falta ao amante é precisamente o que o amado também não tem. O que falta? O objeto do desejo.

C ARISTÓFANES, A TEORIA DA ALMA GÊMEA:


8 o amor é a procura do todo e amar é sinônimo de se unir e de se confundir com o amado. Essa esperança atravessou milênios e permanece, até hoje, na idealização do objeto de amor como alma gêmea.

9 Dizer que não há o objeto do desejo não significa que não haja uma infinidade de objetos que causam desejo. Mas nenhum desses objetos é Aquele, que se existisse conduziria à felicidade. Como esse objeto não há, o desejo não pode ser realizado. Assim o destino do homem é ser desejante e amar na lógica do não-todo.

10 o amor não elimina nem a falta, porque ela faz parte da constituição do aparelho psíquico (subjetividade), nem o desconforto do homem no mundo. Freud, em seu texto Mal-estar na civilização (1930), indica as fontes principais desse desconforto: as exigências imperativas do social, a degradação do corpo, a morte e os conflitos inerentes aos laços sociais (amor, relações familiares, de trabalho e de amizade). Sem dúvida, o amor, a religião e os ideais de revolução social para transformar o mundo fazem parte das grandes ilusões humanas: fraternidade, eternidade, felicidade e liberdade.

D AMOR & DESEJO


11 Amar coloca em cena o desejo relacionado à falta e não ao sexo. Nesse sentido, amor e desejo sexual são diferentes, o que não significa que sejam excludentes.

12 Quando se ama, o que está em jogo é a suposição de um ser — riqueza interior — no outro. Quando se deseja sexualmente, o que entra em cena é o outro capturado como objeto.

13 desejar é lamentar o que falta. Por isto o desejo se apresenta sempre com as seguintes características: indestrutibilidade e invariância. É nesse sentido que Lacan afirma que o desejo é sempre o mesmo, que está sempre se deslocando de um objeto para outro. Em relação ao desejo nunca é isto, é sempre outra coisa, mais outra, ainda outra e assim sucessivamente... Aqui entra em cena a invenção do amor com a finalidade de suprir a falta

14 Lacan: o impossível, sob a forma de falta, é o modo pelo qual o real comparece no simbólico

E AMOR & GOZO


15 O lugar do gozo é o corpo. Um corpo é mapeado em zonas erógenas, onde se instalam as pulsões sexuais. Freud localiza esses pontos de excitação sexual na boca, no ânus e nos genitais. Lacan acrescenta os olhos e os ouvidos. O gozo se liga a determinados objetos que se relacionam diretamente com essas regiões: seio, fezes, órgãos sexuais, olhar, voz, odores. Temos, então, respectivamente as seguintes pulsões: oral, anal, genital, escópica, invocante e olfativa.

16 Um corpo não goza por inteiro e também não goza do corpo do Outro. Diz Lacan: “A relação sexual é impossível”. É que, se a relação sexual fosse possível, haveria gozo pleno dos corpos. Mas o que há é gozo parcial. nasce a suposição de um mais-gozar. Então fala-se de amor, sofre-se por amor

F PRAZER E GOZO NÃO SÃO SINÔNIMOS.


17 O princípio de prazer é regido pelo princípio de constância: tendência do aparelho mental para escoar uma porção de excitação, a fim de reter a menor quantidade possível. Aqui entra em cena o princípio de realidade, cuja função é orientar os caminhos que levam à realização do prazer, em função das condições impostas pelo exterior.

18 Mas existe uma compulsão à repetição, que escapa ao princípio de prazer: é o mais além do princípio de prazer, que é tendência ao retorno do inanimado e à inscrição da dimensão da morte na vida. visa o estado de repouso, de equilíbrio, correspondendo ao princípio de nirvana ou de aniquilamento, retornar ao princípio de tudo, retrocedendo ao nada original, ao inominável. Mas a pulsão de morte é fundamentalmente criadora.

19 Esse ‘mais além do princípio de prazer’ é o gozo.

a m.c.: não sei se entendi, mas parece que diz que a pulsão persegue o gozo, e não o prazer, que são coisas diferentes.

20 Estaria certo dizer que o gozo é do corpo e o prazer do aparelho psíquico?

G FREUD: OS FUNDAMENTOS DO AMOR


21 a) escolha de objeto (narcisismo)

22 b) diferenças e articulações com as pulsões

23 c) idealização e identificação (duas formas de amar

24 d) Eros é uma força que tende para a unificação.

a m.c.: eros é uma força que tende para a unificação. E Tânatos?

25 Sobre as pulsões: existem três polaridades que regem o aparelho psíquico: eu-objeto, prazer-desprazer e atividade-passividade. Se existem três polaridades psíquicas, o amor, diz Freud, não pode ter apenas uma antítese, mas sim três: amar, odiar e ser amado.

26 Sobre narcisismo: amoroso. No início, as pulsões sexuais e as pulsões do eu (pulsões de autoconservação) se misturam, tendo portanto a mesma quantidade de libido (é o tempo primitivo, auto-erótico). Quando elas se separam, a bipartição da libido pode ser feita de forma desequilibrada: uma certa quantidade de libido retirada dos objetos é investida no eu, ou uma certa quantidade de libido retirada do eu é investida nos objetos.

27 Esse deslocamento da libido determina duas escolhas do objeto amoroso: narcisista e anaclítica (de ligação).

28 Em função das condições particulares da espécie humana, todo indivíduo tem dois objetos sexuais: ele próprio e as pessoas que exercem as funções de alimentação e de proteção. Assim, a escolha narcísica tem como modelo a imagem de si mesmo: amamos o que somos, o que fomos, o que gostaríamos de ser e alguém que foi parte de nós mesmos. Já a escolha anaclítica tem como modelo as funções maternas e paternas: amamos a mulher que alimenta ou o homem que protege.

29 Adotar como modelo o seu próprio eu está para a escolha narcísica assim como adotar as imagens materna e paterna está para a escolha anaclítica.

a m.c.: isso é o narcisismo? a libido se distribui igualmente entre o ego e o id porque eles são um só? A pulsão sexual é voltada para fora (objetos) e a de autoconservação é voltada para dentro (para o ego)?

b m.c.: não sei se entendi. Parece que aqui o ser percebe que o prazer está nele, e as fontes de prazer estão fora dele. Daí surge o amor (relação positiva com as fontes de prazer).

30 aqueles que renunciaram a uma parte do seu narcisismo se lançam à procura do amor, transferindo o seu próprio narcisismo para o objeto amado. tem como característica a supervalorização do objeto ou de si mesmo.

31 Na escolha anaclítica, a intensidade com que a libido se desloca do eu para o objeto produz uma relação de submissão neurótica. A origem dessa subserviência está na idealização, processo através do qual as qualidades do objeto são exacerbadas ao ponto de ele ser tomado como a fonte de todos os bens.

32 Na escolha narcísica, o eu ideal é amado com a mesma intensidade com que o eu do prazer foi amado no auto-erotismo. Há idealização, como superinvestimento do amado à custa do amante, o objeto amado é colocado no lugar do ideal do eu.

a m.c.: vejamos. Na fase oral, amar é ser saciado pelo outro. Na fase anal, ser apreciado pelo outro.

33 A relação inaugural entre amor e auto-erotismo determina a estrutura narcísica do amor, cuja característica fundamental é o procedimento de devoração (A sensação de fome, eliminada pelo objeto que porta o alimento, inaugura a primeira experiência de satisfação sexual).

H LACAN


34 o amor como paixão imaginária é definido como um amor que deseja ser amado. O que é visado nesse amor é o aprisionamento do outro. Isto implica que o outro só pode ser tomado como objeto do bem, ou seja, o que o apaixonado considera seu bem está no outro.

35 Logo, a única particularidade do outro, colocado no lugar de objeto amado, é satisfazer o pedido do sujeito para ser amado. a sombra de Eurídice a Orfeu, indicam com precisão a posição do outro no amor-paixão: um objeto vestido pelas fantasias do amante, um objeto em que o amante deseja se enviscar.

36 Já o amor como dom ativo não visa ao outro como objeto, mas como ser. Só que o engano do amor reside no fato de que esse ser para o qual o amor se dirige é uma fantasia e, como tal, uma ficção.

I CONCLUSÃO


37 o amor-amor se inscreve na função de sublimação, na medida em que, por estratagemas diferentes, o amado e o desejado se apresentam como objeto inacessível, seja sob a forma de impossível ou de perdido. Enfim, no lugar do objeto é colocado um vazio, fazendo com que o amor revele o que tem por função velar: o real. Na sublimação, a visada do amor não é a posse do objeto. Uma série de artifícios é inventada com a finalidade de colocar previamente o objeto amado como impossível.

38 O amor-paixão coloca em cena a função de idealização.

39 O real como registro do impossível é negado e substituído pela promessa de felicidade. Da esperança ao fracasso, o sonho se transforma em martírio a serviço do gozo. Nega- se a castração para sustentar a ilusão de que o amado tem o que falta ao amante. Na idealização, o amor aspira a posse do objeto. Essa mudança de alvo engendra estratégias que visam a identificar as causas do infortúnio. O culpado é sempre o Outro: as forças malignas do mundo, o dinheiro, a traição etc.

J GLOSSÁRIO


40 Pulsão: conceito psicanalítico introduzido por Freud (1905) para explicar a existência de fontes internas portadoras de excitação (estado de tensão) a que o organismo não pode escapar e que são factores geradores de determinados comportamentos, atitudes e afectos. A pulsão tem como alvo suprimir a tensão proveniente da excitação corporal. (Mesquita, R. & Duarte, F. (1996).Dicionário de Psicologia. Editora Plátano).

ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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