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História da Arte


Eliade

O FIM DO MUNDO NA ARTE MODERNA

44 Desde o início do século as artes plásticas bem como a literatura e a música passaram por transformações tão radicais que foi possível falar numa destruição da linguagem artística (...) um verdadeiro aniquilamento do universo artístico estabelecido. (...) tem-se a impressão de que o artista quer fazer tabula rasa de toda a história da pintura. Mais que destruição, uma regressão ao caos, a uma espécie de massa confusa primordial. (...) chegar a uma modalidade germinal da matéria, a fim de poder recomeçar a história da arte a partir do zero. /68

45 ‘São sobretudo os artistas que representam as verdadeiras forças criadoras de uma civilização ou de uma sociedade. Através de sua criação, os artistas antecipam o que deverá ocorrer – algumas vezes duas gerações mais tarde – em outros setores da vida social e cultural’ /69.

46 É significativo que a destruição das linguagens artísticas tenha coincidido com o aparecimento da psicanálise. (...) Eles compreenderam que um verdadeiro reinício não pode ter lugar senão após um verdadeiro fim. E, primeiros entre os modernos, os artistas puseram-se a destruir realmente o mundo deles, a fim de recriar um universo artístico no qual o homem possa simultaneamente existir, contemplar e sonhar /69.

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117 Os mitos da elite se cristalizam em torno da criação artística. Função redentora da dificuldade, principalmente como é encontrada na arte moderna. A elite se apaixona por obras que representam mundos fechados, universos herméticos onde não é possível penetrar senão por superação de enormes dificuldades, equiparáveis às provas iniciatórias das sociedades arcaicas. Tem-se um sentimento de iniciação, pertencimento a uma minoria secreta. Obras que não forem difíceis são ignoradas, assim artistas que não forem malditos /162.

118 A redução dos universos artísticos ao estado primordial de matéria prima é uma fase num processo mais complexo, como nas concepções cíclicas das sociedades arcaicas: o caos, a regressão de todas as formas à indistinção da matéria prima, é seguida por uma nova criação, uma cosmogonia /163.

romance e mitologia

119 A narrativa épica e o romance prolongam, noutro plano e com outros fins, a narrativa mitológica. Trata-se de contar uma história significativa, de relatar série de eventos dramáticos ocorridos num passado mais ou menos fabuloso. ‘a prosa narrativa, especialmente o romance, tomou, nas sociedades modernas, o lugar ocupado pela recitação dos mitos e dos contos nas sociedades tradicionais e populares’ /163.

120 A estrutura mítica dos romances aparece na sobrevivência literária dos grandes temas e dos personagens mitológicos (o tema iniciatório, o tema das provas do herói-redentor e seus combates contra monstros). /163.

121 Há também a dupla realidade dos personagens literários, que refletem a realidade histórica e psicológica do leitor, mas dispõe, ao mesmo tempo, do poder mágico de uma criação imaginária. /164.

122 Há também a saída do tempo, que a literatura produz, e é o que mais a aproxima do mito. O leitor sai do tempo histórico e pessoal e mergulha num tempo fabuloso, trans-histórico, porque é aparentemente histórico mas é condensado e dilatado, e dispõe de todas as liberdades dos mundos imaginários. /164

123 ‘É sempre a mesma luta contra o tempo, a mesma esperança de se libertar do peso do tempo morto, do tempo que destrói e mata’ /165.

N. ed., v.: Eliade, Mito e realidade

Da Barsa:

Verdadeiros precursores da Europa medieval, saxões, celtas e ilírios. A arte medieval parece constituir um retrocesso quando comparada com a grega clássica. Em relação à arte pré-histórica européia, todavia, constitui um desenvolvimento progressivo e natural.

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O período cristão-primitivo ocupa posição-chave, a meio caminho entre os períodos clássico e medieval. Por volta dos séculos III e IV, os cristãos começaram a conciliar as formas clássicas a seus ideais. As primeiras obras de arte cristãs foram produzidas num cenário ainda pagão, e era lógico que, em seu estilo, revelassem essa origem pagã. No entanto, já continham novos elementos que cedo iriam gerar um estilo abstrato e transcendente, que anuncia certas tendências da arte medieval.

Ocorre freqüentemente, por exemplo, um significativo desprezo para com o volume, e não há a preocupação de evocar individualidades, sempre que se trata da forma humana. Tais características teriam sua plena realização na arte solene e imutável de Bizâncio, embora até mesmo a arte bizantina mostrasse dualidade estilística, com um tanto de clássico e um tanto de hierático.

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A arte otoniana dos séculos XI e XII caracteriza-se por um estilo rígido e monumental, inteiramente diferenciado do que então dominava na França, Espanha, Itália ou Inglaterra, embora todos esses estilos se tivessem originado na arte carolíngia. Nessa época, estava começando um dos mais fecundos períodos históricos da arte inglesa. Talvez o lugar de destaque na arte do período saxônico coubesse à escola de pintura de Winchester, que entremostra um relacionamento inteiramente original entre as figuras e a ornamentação, encontro notável de elementos clássicos e abstratos, capaz de gerar um novo estilo repleto de antecipações expressionistas.

O estilo românico, que predominou nos séculos XI e XII, era essencialmente arquitetônico e marcou o início de uma fase de grandes construções em toda a Europa. Representou um rompimento quase completo com os modelos antigos e foi secundado pelo emprego, em larga escala, da decoração escultórica. Foi um estilo monumental, em que todas as formas eram reduzidas a seus elementos mais simples e, apesar de seu internacionalismo, desenvolveu-se de maneira mais característica na França.

Dotado de maior dinamismo foi o estilo gótico, que se implantou entre os séculos XII e XV. Estilo também essencialmente arquitetônico e internacional, se bem que adquirisse peculiaridades em cada país, o gótico substituiu o tratamento frontal pela utilização de diagonais e oblíquas, ao mesmo tempo que conferia muito maior importância à percepção do espaço. O arquiteto gótico elevou massas imponentes a grandes alturas. Parecia querer atenuar a lei da gravidade e conseguia um equilíbrio todo feito de tensões. Para alguns autores da moderna história econômica e social dedicada a esse período, a altura e magnificência das catedrais góticas expressaram muito mais o orgulho da burguesia ascendente e a competição entre suas cidades do que um surto de fé e espiritualidade.

A tensão já não se acha presente no estilo renascentista que se seguiu. Mas a rígida monumentalidade foi tão alheia ao espírito renascentista como o foi ao ideal gótico tardio. É que, se a arte medieval era antes de tudo simbólica e como que apartada da vida, a renascentista achava-se imbuída da experiência que o artista trazia do mundo exterior. A tendência a reproduzir a aparência real das coisas, que acabaria por gerar o realismo fotográfico de fins do século XIX, teve suas raízes na arte renascentista. Logo, porém, haveria de surgir uma nova reação a essa fase "clássica", com o advento do maneirismo no século XVI e já como prelúdio do barroco. O maneirista interpretava as formas de modo até certo ponto engenhoso, embora torturado.

A arte barroca dos séculos XVII e XVIII substitui o equilíbrio e repouso renascentistas pela constante sensação de movimento. O estilo barroco, no entanto, não pode ser comparado ao gótico: neste, a forma é espiritualizada e, naquele, intelectualmente elaborada. O artista barroco exalta o esforço físico e procura combinar uma energia toda terrena com elementos místicos. Obtém, assim, efeitos de incrível impacto dramático. O vigor desses resultados transforma-se em graça e frivolidade no período rococó, quando as formas se mostram ainda mais elaboradas, mas com uma sobrecarga decorativa que, nas últimas décadas do século XVIII, marca o final de um longo processo de desenvolvimento.

O renascimento neoclássico, que se verificou por volta de 1800, teve todo o aspecto de um movimento natimorto, tanto que, durante sua vigência, a arquitetura original deixou de ser praticada. A princípio, as formas arquitetônicas gregas e romanas ainda foram habilmente manipuladas por arquitetos capazes, mas a seguir se transformaram em frios pastiches ou meras imitações de modelos antigos.

Como um estilo implica antes de tudo adequação entre a vida mental e a existência física, e os homens do começo da era industrial pouco tinham em comum com os que construíram o Palazzo Pitti ou com a corte de Luís XIV, não é de se surpreender que essa época de cópias servis não alcance qualquer resquício de estilo próprio. Só a pintura realizou avanço significativo, romântica, realista, no final do século XIX já naturalista. O impressionismo, que se manifestou em seguida, trouxe cenas e paisagens em que a luz e a atmosfera se combinam de maneira quase impalpável. Em alguns casos já anuncia a arte abstrata do século XX.

Foi necessária a arte moderna do século XX para que aparecessem estilos novos e inconfundíveis de arquitetura. Graças a novas técnicas e materiais, os edifícios de hoje, em suas diversas tendências, não se assemelham a quaisquer outros das épocas anteriores. Assim também os pintores, escultores, desenhistas, gravadores trabalham em direções completamente novas. Em sucessivas vertentes de renovação, caracterizaram-se vivamente o expressionismo, o fauvismo, o surrealismo, o cubismo, o abstracionismo, as artes pop, op, conceitual, minimalista e tantas outras manifestações artísticas do século XX.

A breve síntese das modificações estilísticas descritas sugere a existência, no campo da arte, de uma lei da evolução capaz de repetir o que se passa na natureza. A idéia parece fortalecer-se quando se observa que uma mesma espécie de ritmo prevaleceu na arte pré-histórica, na da Grécia e Roma antigas. À arte grega que teve início nos séculos VII e VI a.C., no chamado período arcaico, seguiu-se o período "clássico" (séculos V e IV a.C.) e, depois, uma fase "barroca".

Para encerrar o ciclo grego, houve o período helenístico (séculos IV a I a.C.), de indiscutíveis tendências naturalistas. No entanto, as grandes diferenças existentes entre a arte da antiguidade e a da Europa ocidental mostram como a liberdade pode ser exercida, mesmo nos supostos limites da "lei da evolução natural". A arte grega clássica iria dominar, por bem pouco tempo -- com exceção da Itália -- a arte ocidental cristã do Renascimento. A cultura da Europa setentrional e ocidental é mais bem traduzida pelo gótico, e nada há mais diferente de uma catedral gótica do que um templo grego.

O estudo da evolução dos estilos mostra bem a relação entre as obras de arte e o período em que surgem, ou entre as obras de arte e o artista capaz de criá-las. Mostra também a influência de períodos sucessivos sobre construções que levaram muito tempo até serem dadas como prontas.

f.: Barsa CD v. 1.11 (1995). Baseada na Nova Enciclopédia Barsa. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações (1 CD)
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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