Santayana, The Sense of Beauty (1896), high value on aesthetic pleasure; it was a pleasure that was understood to be an irrational expression of vital interests but was distinguished from direct, sensual pleasures [1].
Colli
Sentido mais profundo da arte: instrumento de prazer cultural de riqueza inesgotável.
A razão está presente, mas a obra enfeixa elementos que escapam ao domínio racional, e se comunica conosco por outros canais: da emoção, do espanto, da intuição, das associações, das evocações, das seduções. Descrever, analisar, comparar uma obra é indicar modos de aproximação, mas não esgotá-la. Os sentidos da obra escapam ao discurso porque jamais deixarão de pertencer ao campo do não-racional. “O discurso sobre a arte exprime unicamente a relação da cultura do autor com o objeto cultural que é a obra de arte. Não esgota o objeto artístico – pode eventualmente enriquece-lo” (82].
A arte serviu de propaganda, celebrou mortos, esteve a serviço do poder, foi instrumento ideológico. Mas a obra, inseparável da Ideologia que a engendrou, não se reduz ao fim a que se propôs, porque é passível de leitura diferente, nova, ambígua, “porque sua riqueza intrínseca faz explodir os limites da sua mensagem” (74].
“num primeiro momento a arte pode nos parecer obediente e mensageira, mas logo percebemos que ela é sobretudo portadora de sinais, de marcas deixadas pelo não-racional coletivo, social, histórico” - p. 75].
“a viagem ao mundo da arte não ‘melhora’ nossa relação com o nosso mundo. Mas o fato é que, se não melhora, ela transforma essa relação, tornando-a mais complexa, mais rica” (77].
“Buscamos a arte pelo prazer que ela nos causa. Uma sinfonia, um quadro, um romance são refúgios, pois instauram um universo para o qual nos podemos bandear, fugindo das asperezas de nossa vida ‘real’, procurando as delícias das emoções ‘não reais’. No fundo, são os mesmos motivos que nos fazem assistir a um jogo de futebol. A diferença é o corolário que enunciamos acima: as emoções artísticas são ricas e fecundas, o prazer e a evasão não são só ‘alienações’ num primeiro momento: transformando nossa sensibilidade, elas transformam também nossa relação com o mundo” (77].
“(...] nos emocionamos ‘por procuração’. Sofremos com as desventuras das personagens, exultamos com sua felicidade. Não comprometemos nossos sentimentos ou vidas: penetramos numa espécie de análogo da relação amorosa. E, é bem verdade, se o fazemos é de alma limpa: vivemos com as nossas paixões as paixões de outrem, sem os compromissos e as exigências do ‘real’” (78]
(coq]
Jung
A projeção do conteúdo psíquico na arte é um processo puramente inconsciente, não pode ser inventada.
A arte representa o espírito de sua época.
Cruz cujo centro se desloca para o alto na idade média. Catedrais verticais, altas. Busca da elevação para o mundo espiritual, afastar-se da terra, do mundo, do corpo, inimigos a serem vencidos. Arte gótica = idade média.
Na renascença e 5 séculos seguintes: arte realista, sensual, mundo visível com seus esplendores e horrores.
167. Arte sensorial: arte do instante que passa, da luz e do ar, reprodução direta da natureza ou assunto.
Arte “imaginativa”: fantasia ou experiência do artista, de maneira irreal, sonhadora ou abstrata.
Séc. XX: círculo e quadrado voltam a aparecer, mas expressando o dilema da existência do homem moderno, não há conexão entre eles. A alma do homem perdeu as raízes e está ameaçada de dissociação.
(f.: Jung, C. G. et allii (2000). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira.)
A pintura moderna como símbolo (250].
169. Artista é instrumento e intérprete do espírito de sua época: dá forma aos valores da época que o forma.
170. A ameaça ao triunfo da arte moderna é o degenerar-se em maneirismo e modismo.
171. O fascínio negativo ou positivo, irritação e perturbação causados pela arte moderna não vêm da sua forma visível aparente. Nada nela lembra ao espectador seu próprio mundo. Ela não o acolhe cordialmente e não lhe faz concessões.
O objetivo do artista é expressar sua visão interior do homem, o 2° plano espiritual da vida e do mundo. Novos tipos de linha e cor, uma língua estrangeira a aprender.
172. Dois extremos, a grande abstração e o grande realismo, sempre estiveram presentes na arte, mas o 1° expressava-se através do 2°. Agora, têm de seguir caminhos separados.
Malevich, 1913, quadrado preto. Extrema abstração. Duchamp, 1914, porta-garrafas, extremo realismo. Cisão psicológica que vem desde a Renascença, conflito entre conhecimento e fé, que foi afastando o homem dos seus fundamentos instintivos, separando natureza e mente, consciente e inconsciente. Essa cisão é o que a arte moderna quer expressar.
4.D. A alma secreta das coisas, 253.
173. Schwitter, lixo, “catedral para as coisas”. Exaltação mágica do objeto que lembra os alquimistas, para quem a matéria é a essência da terra e deve ser venerada, o objeto precioso será encontrado na matéria mais vil, a matéria tem espírito.
Há, aí, na arte moderna como na alquimia, projeção de parte da psique inconsciente sobre os objetos resultando em animação da coisa.
O espírito da matéria, a alma das coisas, é o inconsciente. Sempre que o conhecimento racional ou consciente chega a seus limites o homem preenche o inexplicável e o imponderável com os conteúdos do seu inconsciente, como se o projetasse num receptáculo escuro e vazio.
De Chirico, aspecto fantasmagórico das coisas, investigador trágico/místico, influenciado por Nietzche. Transformar o nenhum sentido da vida em arte, o vazio terrível é a verdadeira beleza imperturbada e sem alma da matéria. Entrou no âmago do dilema existencial do homem moderno, que é o de [Morte de Deus], a perda do fator supremo que dá significação à vida.
Marc Chagall é a contrapartida, judeu crente otimista, que nunca transpôs totalidade a barreira do inconsciente, sempre manteve um pé na realidade consciente.
174. A consciência detém a chave dos valores do inconsciente e só ela pode interpretar suas imagens e reconhecer seu sentido para o homem aqui e agora. Se o inconsciente é ativado e abandonado a si próprio expressa seus conteúdos dominadores e seu lado negativo e destruidor.
175. É característico da psicose a consciência e o ego submergirem afogados nos conteúdos do inconsciente.
4.E. A fuga da realidade (260].
176. A arte dá expressão formal às convicções científicas. Foi atingida pela descoberta do inconsciente e pela física nuclear, que tirou das unidades básicas da matéria seu caráter absolutamente concreto. Há permutabilidade entre massa e energia, onda e partícula. Leis de causa e efeito valem até certo ponto. Relatividades, descontinuidades e paradoxos.
Mudança drástica no conceito de realidade.
177. Paralelismo entre física nuclear e psicologia do inconsciente. O contínuo espaço-tempo da física e o inconsciente coletivo são aspecto exterior e interior de uma mesma realidade que se esconde atrás das aparências. Há um 2° plano comum entre os dois domínios das aparências, o da física e o da psicologia.
178. Esse mundo por detrás do universo da física e da psique tem leis, processos e conteúdos inimagináveis. Por isso o tema da arte moderna é inimaginável, e por isso, ela é abstrata.
179. Kandinsky. Colapso do átomo. Tudo se tronou instável, inseguro e sem substância. Ciência aniquilada. O artista se afasta do reino da natureza, do populoso 1° plano das coisas. Quebrar o espelho da vida para contemplar o verdadeiro rosto do ser.
Klee: o artista não consegue ver nos produtos da natureza a essência do processo criador. Está mais interessado nas forças formativas que nas formas que elas produzem.
180. A arte passa a buscar o espírito da matéria. Uns tentam isso pela transmutação dos objetos – surrealismo, fantasia, imagens oníricas. Outros, os ‘abstratos’, voltam as costas aos objetos e tentam pintar a forma pura.
Essa arte, que busca uma certeza interior, um ‘centro da vida’, é misticismo. Klee: não se trata de reproduzir o que se vê, mas de tornar visível o que se percebe secretamente.
181. O espírito da matéria é terrestre, atômico, o mercúrio duplex, diabo e Lúcifer, oposto ao espírito ‘celeste’. A arte é um misticismo da terra e uma compensação ao cristianismo.
O quadro de Pollock é massa confusa, prima matéria, caos, matéria prima da obra alquímica. Significa o nada que é tudo, vem de uma época anterior ao aparecimento da consciência e do ser.
182. Quanto mais se dissolve a realidade menos a pintura pode ser simbólica, porque o símbolo é um objeto do mundo conhecido que sugere alguma coisa desconhecida.
183. Curiosamente a microfotografia veio provar que algumas das imagens mais abstratas reproduziram inconscientemente a estrutura molecular de elementos da natureza. A abstração pura tornou-se pura concreção.
É que as camadas profundas da psique são pura natureza. Ao mergulhar no inconsciente o artista é menos livre do que pensa, porque fica jungido às leis da natureza.
184. A arte moderna expressa o medo, a última etapa do mito agonizante do homem virtuoso do humanismo, a derrota da consciência. Tudo o que já ligou o homem ao universo, à terra, ao tempo, ao espaço à matéria e à vida natural foi rejeitado ou destruído.
(f.: Jung, C. G. et allii (2000). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira.)