Os deuses primordiais — ou da 1ª geração — eram entidades que haviam gerado o mundo. Representavam as mais primitivas e poderosas forças da natureza, como por exemplo o relâmpago, e também todos os impulsos básicos da vida, como a morte e o inflexível estino.
Os titãs, representantes típicos da 2ª geração, que descendendia da primeira, transmitia ainda uma visão agitada e indomada da natureza. Havia já deuses de aparência semelhante à humana, mas predominavam divindades poderosas, monstruosas e aparentemente incontroláveis.
Mais tarde, com o desaparecimento da potência criadora e selvagem das duas primeiras gerações, as antigas divindades e as novas acomodaram-se, cada uma em seu domínio. Na época da 3ª geração, a dos "deuses olímpicos", os deuses adquiriram forma totalmente humana e o mundo assumiu, finalmente, o aspecto atual.
Segundo as tradições gregas, porém, pouco tempo antes do mundo atual, os deuses interagiam constantemente com os mortais, e a terra ainda estava cheia assustadores. Os filhos dos deuses olímpicos constituem, de certa forma, a quarta e última geração divinaOs gregos conheciam diversas lendas sobre a origem do Cosmo. Homero considerava o titã Oceano a origem dos outros deuses (Il. 14.200 e 246); as doutrinas órficas[1], a julgar por testemunhos tardios (Dam. Pr. 124), mencionavam Nix como o princípio de todas as coisas; para Hesíodo, tudo havia começado com Caos e Gaia (Hes. Th. 116). Outras fontes mencionam, ainda, a origem a partir de um "ovo primordial" (Ar. Av. 693-703).
Ferécides de Siros (séc. -VI), por sua vez, sustentava que Zeus, Crono e Gaia haviam existido sempre e, portanto, não teria ocorrido propriamente uma criação (D.L. 1.119). De qualquer modo, para os gregos todas as forças que haviam atuado no momento da criação eram, em qualquer uma das versões conhecidas, essencialmente divinas.
A cosmogonia de Hesíodo
A versão da Teogonia de Hesíodo (116-53) é, dentre todas as cosmogonias gregas, uma das mais coerentes e bem estruturadas, além de didática. É, também, a mais conhecida:
No princípio, existia apenas o Caos (gr. Χάος), vazio primordial e escuro que precedeu toda a existência; depois, surgiu Gaia, a "mãe de todos", e a seguir vieram Tártaro e Eros e, então, Érebo e Nix.
Essas quatro poderosas divindades primordiais começaram a existir, aparentemente, a partir de simples "desdobramentos", sem a ajuda de qualquer união sexual. Mais tarde, graças ao aparecimento de Eros, tais uniões tiveram lugar.
As linhagens de Tártaro e Eros foram pouco produtivas; Nix, Érebo e Gaia, por outro lado, deram origem aos deuses propriamente ditos, seja através de mais "desdobramentos" ou, então, "unidos em amor"... (Hes. Th. 125).
Iconografia e culto
Caos era uma entidade abstrata, de função puramente genealógica; não foi tema da arte grega e nem objeto de culto.