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Lendas da argólida
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Introdução
As lendas ligadas à cidade de Argos, que significa "terra brilhante", estão entre as mais antigas e mais importantes da mitologia grega. Essas lendas ligam, através de Ínaco e dos outros ancestrais míticos dos reis de Argos, a Argólida com o Egito, com o Oriente Médio e com importantes personagens lendários de outras regiões da Grécia. Ínaco Nilo
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+--------+--------+ |
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Foroneu Zeus --+-- Ió |
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Épafo ----+-----+-----+-- Mênfis
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Posídon ---+--- Líbia Tebe |
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+-----------------+-------+ Lisianassa
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Agenor Belo Busíris
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Cadmo Dânao Egito
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+-------+-------+ |
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Amímone Hipermnestra --+--- Linceu
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+-----+ Abas
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| Posídon +-----+----+
| Ares Acrísio Preto -+- Estenebéia
Náuplio | | |
+------+ +----+-----+ prétides
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Enômao --+-- Euareté Dânae --+-- Zeus
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Pélops -+- Hipodâmia Perseu
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Atreu Héracles
Ínaco (gr. Ἴνακος) é o mais antigo rei de Argos, que teria vivido antes da criação do homem. Sua genealogia é um pouco confusa, mas em geral ele é considerado pai de Ió e de Foroneu, um dos homens primevos. Épafo, seu neto, uniu-se a Mênfis[1], filha de Nilo[2], e gerou Líbia[3], que se uniu a Posídon e teve dois filhos, Agenor e Belo[4].
Com exceção de Ió e Foroneu, que têm lenda própria, temos até aqui, basicamente, ancestrais míticos de rios, cidades e regiões: Ínaco é um deus-rio da Argólida e Nilo, do Egito; ambos são filhos de Oceano e Tétis. Mênfis e Tebe personificam cidades do Egito (Mênfis e Tebas[5]), e Líbia personifica a região de mesmo nome. Agenor e Belo são, respectivamente, antigos reis da Fenícia e do Egito. Busíris[6] e Egito[7] também eram, para os gregos, antigos reis do Egito.
Agenor é pai de Cadmo, fundador de Tebas, e ancestral de Édipo; Dânao, seu sobrinho, antigo rei de Argos, é pai das danaides e ancestral de Acrísio, Preto, Dânae, Perseu e Héracles, de um lado, e de Náuplio, personificação de uma cidade da Argólida, e de Atreu, rei de Micenas, pai de Agamêmnon e Menelau, de outro. Preto, irmão de Acrísio, é pai das prétides e participa da lenda do herói Belerofonte e da do médico-adivinho Melampo.
Notas
Mênfis, filha de Nilo, casou-se com Épafo, filho de Ió e de Zeus, e foi mãe de Líbia, Tebe e Lisianassa. Heroína epônima da cidade egípcia de Mênfis, fundada em -3100 e conhecida pelos egípcios antigos, inicialmente, por inb-hd ("muros brancos"), e mais tarde, por mn-nfr ("o bom lugar").
O nome egípcio do deus-rio Nilo (gr. Νεῖλος) e do próprio rio Nilo era Hap(i) e data provavelmente do pré-dinástico, período da cronologia egípcia que se refere aos séculos anteriores a -3100.
Líbia (gr. Λιβύη), filha de Épafo e Mênfis, uniu-se a Posídon e foi mãe de Agenor e Belo. Ela é a personificação da região de mesmo nome, correspondente a todo o norte da África, a oeste do Egito; os antigos egípcios chamavam essa região de Tmhw.
"Belo" é, provavelmente, a versão grega da palavra semítica Ba´al (hebraico בעל, "senhor", "mestre"), era usada no Oriente Médio antigo para deuses, reis ou homens muito poderosos. Em certa medida, equivale ao título micênico 𐀷 𐀩 𐀏 (wa-na-ka), ἄναξ no grego clássico.
Tebe (gr. Θήβη) é a heroína epônima da cidade egípcia de Tebas, cujo nome original era Waset, igual ao de uma deusa local. Embora já existisse antes de -3100, tornou-se importante no Egito faraônico somente depois de -2000.
Busíris (gr. Βούσιρις), tirânico rei do Egito, era filho de Posídon e Lisianassa, filha de Épafo e Mênfis. O nome é, possivelmente, simples alteração de "Osíris", um dos mais importantes deuses egípcios. Ele participa do 11º trabalho de Héracles.
Egito, filho de Belo e irmão gêmeo de Dânao, é o herói grego epônimo do Egito. A palavra "Egito", que utilizamos correntemente, vem do grego Αἴγυπτος; os egípcios chamavam sua própria terra de Kmt (lia-se "κe-mi-t", possivelmente), que na antiga língua egípcia significa "terra negra".
io e zeus
Ió (gr. Ἰώ) era filha — ou, em certas versões, simples descendente — do deus-rio Ínaco. A genealogia é um tanto confusa, mas ela sem dúvida pertencia à família real de Argos. Segundo a tradição, quando Ió era sacerdotiza do templo de Hera em Argos, Zeus se apaixonou por ela e ia visitá-la com frequência.
Hera desconfiou da nova aventura do marido; porém, antes que pudesse fazer alguma coisa, Zeus transformou a moça em uma novilha de grande beleza e passou a encontrá-la na forma de um touro. Mas Hera, acostumada com os truques de Zeus, exigiu que a novilha lhe fosse dada e colocou-a sob vigilância em um bosque de Micenas.
O vigia, que se chamava Argos, tinha cem olhos, enxergava tudo o que havia para ser visto em todos os pontos cardeais e era tão eficiente que, enquanto dormia, fechava apenas cinquenta olhos de cada vez. Zeus começou a se cansar daquela história e encarregou o eficiente Hermes de liquidar o incômodo vigia. Mas a morte de Argos não libertou Ió, pois o ódio de Hera nunca acabava; ela ordenou, então, que um feroz moscardo picasse a novilha sem cessar.
A pobre Ió, instigada pelo moscardo, percorreu toda a Grécia em desvairada corrida. Indo para o norte, atravessou o Bósforo, assim chamado em sua homenagem (Bósforo significa, literalmente, "passagem da vaca"), passou pela Cítia, encontrou Prometeu junto ao Cáucaso e acabou chegando ao Egito, onde voltou à forma humana e deu à luz um filho de Zeus, Épafo.
Posteriormente, Ió desposou o rei do Egito, Telégono, e seu filho Épafo reinou após a morte do pai adotivo. Os gregos consideravam Épafo uma encarnação de Ápis, o touro divino dos egípcios, e Ió logo foi associada à deusa Ísis[1] (Calim. Epigr. 57; Suid. s.v.).
Fontes e iconografia
A fonte literária mais antiga é o pseudo-hesiódico Catálogo das Mulheres (Eh. Fr. 124 e 126); o relato mais completo é, no entanto, o de Ésquilo (infra), a quem o Pseudo-Apolodoro (2.1.1-3) seguiu de perto.
Os dois elementos mais importantes do mito, a morte de Argos e a metamorfose de Ió, foram representados em dois vasos de figuras negras de c. -530 (v.g. Fig. 0908) e em diversos vasos de figuras vermelhas decorados entre -500 e -350, mais ou menos.
Literatura e geografia
Ió é personagem importante da tragédia Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, e é também mencionada em outra de suas tragédias, As Suplicantes; é possível que a tragédia perdida Os Egípcios também tratasse da lenda de Ió. Ela também inspirou um drama de Sófocles chamado Ínaco, representado em Atenas entre -430 e -420, aproximadamente, e do qual restam alguns fragmentos. A tragédia Ió de Queremon, poeta trágico do século -IV, não chegou até nós. É possível que Frínico (fl. -510), antecessor de Ésquilo, também tenha se inspirado parcialmente nesse mito em suas tragédias Os Egípcios e Danaides, que só conhecemos pelo título.
Em Roma, Ió inspirou igualmente o drama Io, de Ácio (c. -170/-86), que não conhecemos, mas a elegia 2.33a de Propércio (-50/-2) e a heroide 14 de Ovídio (-43/17) sobreviveram. A lenda de Ió é também contada no Livro 4 da Argonautica de Valério Flaco (40/92).
O Bósforo (gr. Βόσπορος) é um estreito entre o Mar Negro e o Mar de Mármara que, atualmente, separa a Turquia européia da Turquia asiática. O significado literal da palavra é "a passagem da vaca" e consta que, na Antiguidade, acreditava-se que Io havia passado por ali em sua forma bovina. O primeiro a usar esse nome para o estreito foi, possivelmente, o poeta do Catálogo das Mulheres (Fr. 372).
Notas
A lenda de Ió e de seu filho Épafo contém numerosas referências ao antigo Egito, com o qual os gregos tiveram íntimo contato a partir de -650, época do faraó Psamético I (-664/-610, 26ª dinastia).
dânao
Épafo, filho de Ió e Zeus, casou-se com Mênfis, filha do deus-rio Nilo, e teve numerosos descendentes. Os mais importantes foram Agenor, rei de Tiro (Fenícia), pai de Cadmo e de Europa, e Belo, rei do Egito e pai de dois filhos gêmeos, Egito e Dânao (gr. Δαναός).
Egito teve cinquenta filhos, os egiptíades, e Dânao, cinquenta filhas, as danaides (gr. Δαναίδες) — sem dúvida, de diferentes mulheres... Dânao reinou sobre a Líbia, e Egito sobre o Egito, mas um dia se desentenderam e entraram em guerra. Dânao, derrotado pelos aguerridos egiptíades, teve de fugir sozinho com as filhas para Argos, terra de seus ancestrais.
Dânao e suas filhas foram bem recebidos pelo povo argivo, e Dânao acabou se tornando rei de Argos. Naquela época, a região estava privada de água por causa de Posídon, ainda enraivecido por ter perdido o patronato de Argos para a deusa Hera. Tudo se resolveu, no entanto, quando o deus se enamorou de uma das danaides, Amímone (gr. Ἀμυμώνη), com quem teve um filho, Náuplion, o fundador da cidade de mesmo nome.
Mas, um belo dia, os egiptíades apareceram em Argos, propuseram ao tio uma reconciliação e pediram, ainda, as cinquenta danaides em casamento. Dânao aparentou concordar, mas presenteou cada uma das danaides com uma adaga e ordenou-lhes que matassem os maridos na noite de núpcias. Quarenta e nove danaides obedeceram, e quarenta e nove egiptíades foram assassinados.
Somente Hipermnestra, a filha mais velha, poupou o marido, Linceu, por quem acabara se apaixonando. O velho Dânao quase matou a filha e o sobrinho-genro mas, por fim, acabou se entendendo com eles. Quanto às outras quarenta e nove danaides, sua punição foi terrível: os deuses condenaram-nas, no Hades, a encher de água um vaso cheio de furos durante toda a eternidade.
Após a morte de Dânao, Linceu ocupou o trono de Argos; depois dele, reinou Abas, seu filho; Acrísio e Preto, filhos de Abas, herdaram a animosidade entre Dânao e Egito e até entraram em guerra por causa do trono, mas depois de algum tempo se acomodaram: Acrísio reinou no leste da Argólida, em Argos, e Preto no oeste, em Tirinto.
O mito das danaides inspirou a tragédia As suplicantes, de Ésquilo, representada em Atenas por volta de -463 e que chegou integralmente até nós. Ésquilo escreveu também um drama satírico denominado Amímone que, infelizmente, não sobreviveu.
dânae
Muito tempo depois que gréias e górgonas começaram a existir, Zeus gerou, na Argólida, um filho que iria influenciar decisivamente a existência das filhas de Fórcis e também a de uma princesa da longínqua Etiópia.
A filha de Acrísio
Acrísio (gr. Ἀκρίσιος), neto da danaide Hipermnestra, reinava em Argos, na Argólida, e tinha somente filhas, Evarete e Dânae (gr. Δανάη). Sem filhos homens a quem legar o trono, consultou o oráculo de Delfos e foi avisado pelo deus que sua filha Dânae lhe daria um neto que o mataria. Para fugir ao destino trancou a filha em uma câmara subterrânea de bronze (ou numa torre, conforme a versão) e manteve-a sob estrita vigilância.
Zeus, porém, havia se apaixonado pela moça e, acostumado a enganar a própria Hera, não teve qualquer dificuldade em ludibriar Acrísio. Transformou-se em uma chuva de ouro e, através de uma fenda, entrou no quarto de Dânae.
No tempo certo Dânae deu à luz um filho, a quem chamou de Perseu. Criou-o secretamente na própria câmara de bronze com a cumplicidade de sua velha ama, mas Acrísio acabou descobrindo a existência da criança. O rei não acreditou na paternidade divina, mandou executar a ama, colocou mãe e filho em uma arca de madeira e lançou-os ao mar.
Dânae e Perseu em Sérifos
Algum tempo depois a arca atingiu a ilha de Sérifos e naufragou. Mãe e filho foram acolhidos com bondade e protegidos pelo pescador Díctis, irmão do rei da ilha. Perseu cresceu e viveu tranquilamente em Sérifos até o fim da adolescência, quando o rei, Polidectes, apaixonou-se por Dânae e começou a pensar em algum jeito de se livrar do rapaz.
E a oportunidade iria surgir, certo dia, por ocasião de um banquete no palácio real. Em certo momento, os convidados ofereceram ricos presentes ao rei Polidectes; o jovem Perseu, que vivia pobremente e já estava um pouco bêbado, ofereceu impetuosamente a cabeça de Medusa, a mais perigosa das górgonas. O rei aproveitou a oportunidade e aceitou o presente de imediato.
Assim, Perseu acordou, no dia seguinte, com um problema e tanto: encontrar e matar um dos mais poderosos e perigosos monstros existentes.
Iconografia
A chuva de ouro sobre Dânae e Dânae com o bebê Perseu na arca de madeira foram representados diversas vezes pelos antigos decoradores de vasos de cerâmica.
cassiopéia
Pouco antes da aventura de Perseu com as górgonas, na longínqua Etiópia, a rainha Cassiopéia colocou sua filha Andrômeda em graves apuros.
Paul Gustave Dore, Andromeda
Cassiopéia (gr. Κασσιέπεια) era mulher de Cefeu (gr. Κεφεύς), rei dos etíopes, e estava tão encantada com a própria beleza que se vangloriou, muito descuidadamente, de ser ainda mais bela que as próprias nereidas.
Afrontadas pela pretensão da rainha, as nereidas pediram ao deus do mar, Posídon, que as vingasse, e o deus enviou então um terrível monstro marinho para assolar a Etiópia. PAra completar, um oráculo avisou o rei que para salvar o país teria de sacrificar sua única filha, Andrômeda (gr. Ἀνδρομέδη), ao monstro.
Contrafeito, Cefeu teve que ceder, diante da pressão de seu povo, e ordenou que Andrômeda fosse amarrada a uma estaca, fincada em um rochedo à beira-mar, à disposição do monstro.
Felizmente, o monstro demorou um pouco a aparecer. Quando Perseu voltava de sua visita às Górgonas, deparou-se com Andrômeda presa ao rochedo. Apaixonou-se, salvou-a e levou-a consigo para a Grécia.
Iconografia
Um tema utilizado pelos pintores e ceramistas gregos com alguma frequência foi o da indefesa princesa Andrômeda, presa ao rochedo do sacrifício.
f.: Portal grécia antiga
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
INI | ROL | IGC | DSÍ | FDL | NAR | RAO | IRE | GLO | MIT | MET | PHI | PSI | ART | HIS | ???