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Perseu




index do verbete .
Górgona perseguindo Perseu, que foge com a cabeça de Medusa na bolsa.


Introdução

Uma das mais antigas lendas gregas sobre o combate entre um mortal e um terrível monstro, vencido graças à ajuda dos deuses, é a de Perseu (gr. Περσεύς). Perseu era um longínquo descendente de Ió, a sacerdotiza de Hera seduzida por Zeus; sua bisavó, Hipermestra, foi a única dentre as danaides que não matou o marido.

Acrísio, o avô de Perseu, reinava em Argos e era irmão gêmeo de Preto, rei de Tirinto[1], o que sugere ser Argólida a região onde a lenda se desenvolveu. Perseu era filho de Zeus e de Dânae, filha de Acrísio.

A mais importante e certamente a mais antiga das aventuras de Perseu é a derrota de Medusa, uma das terríveis górgonas, decapitada pelo herói; outras, situadas cronologicamente antes ou depois dessa façanha, têm relação direta com algumas outras lendas, reunidas aqui para tornar o relato mais coerente.

Fontes


Ticiano, 1490-1576. Perseu e Andrômeda. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/perseus-and-andromeda-1556.jpg!HalfHD.jpg

As mais antigas menções a Perseu e suas aventuras estão na Ilíada (Il. 14.319-20, ver supra), nas obras de Hesíodo (Sc. 216-37 e Th. 274-81) e na XII Pítica de Píndaro (Pi. P. 12.7-18). Os dois últimos textos são razoavelmente detalhados, mas o mito completo pode ser encontrado somente no "resumo" do Pseudo-Apolodoro (2.4), que se baseou, por sua vez, no antigo relato de Ferécides de Atenas (c. -500).

Iconografia e culto

A aventura de Perseu entre as Górgonas aparece entre as mais antigas cenas narrativas dos vasos gregos, no final do século -VII; as demais foram representadas apenas em obras de arte dos séculos -V e -IV, notadamente.


Odilon Redon. Andrômeda. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/andromeda.jpg!HalfHD.jpg

Perseu era cultuado como herói em vários locais, e.g. Argos, Micenas, Atenas e Sérifos (Paus. 2.18.1); Heródoto (Hdt. 2.91) informa que havia um templo com uma estátua de Perseu em Chemnis (Panópolis), no Egito.

Literatura

O mito de Perseu inspirou grande quantidade de obras literárias, como um drama satírico de Ésquilo e tragédias de Sófocles e de Eurípides, entre os antigos, que chegaram a nós fragmentadas e incompletas; entre os modernos, citemos a tragédia La fabula de Perseo, de Lope de la Vega (1621) e a tragédia-musical de Philippe Quinault e Jean-Baptiste Lully (1682).

Notas

Preto é personagem de duas lendas importantes, a de Belerofonte e a de [Melampo]; seu filho, Megapentes, reinava em Tirinto na época em que Perseu saiu em busca das górgonas.

Muito tempo depois que gréias e górgonas começaram a existir, Zeus gerou, na Argólida, um filho que iria influenciar decisivamente a existência das filhas de Fórcis e também a de uma princesa da longínqua Etiópia.

A filha de Acrísio

[Acrísio] (gr. Ἀκρίσιος), neto da danaide Hipermnestra, reinava em [Argos], na Argólida, e tinha somente filhas, Evarete e Dânae (gr. Δανάη). Sem filhos homens a quem legar o trono, consultou o oráculo de Delfos e foi avisado pelo deus que sua filha Dânae lhe daria um neto que o mataria. Para fugir ao destino trancou a filha em uma câmara subterrânea de bronze (ou numa torre, conforme a versão) e manteve-a sob estrita vigilância.

Zeus, porém, havia se apaixonado pela moça e, acostumado a enganar a própria Hera, não teve qualquer dificuldade em ludibriar Acrísio. Transformou-se em uma chuva de ouro e, através de uma fenda, entrou no quarto de Dânae.

No tempo certo [Dânae] deu à luz um filho, a quem chamou de Perseu. Criou-o secretamente na própria câmara de bronze com a cumplicidade de sua velha ama, mas Acrísio acabou descobrindo a existência da criança. O rei não acreditou na paternidade divina, mandou executar a ama, colocou mãe e filho em uma arca de madeira e lançou-os ao mar.

Dânae e Perseu em Sérifos


Reni, Guido (1565-1642). Perseu e Andrômeda. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/not_detected_232246.jpg!Large.jpg

Algum tempo depois a arca atingiu a ilha de Sérifos e naufragou. Mãe e filho foram acolhidos com bondade e protegidos pelo pescador Díctis, irmão do rei da ilha. Perseu cresceu e viveu tranquilamente em Sérifos até o fim da adolescência, quando o rei, Polidectes, apaixonou-se por Dânae e começou a pensar em algum jeito de se livrar do rapaz.

E a oportunidade iria surgir, certo dia, por ocasião de um banquete no palácio real. Em certo momento, os convidados ofereceram ricos presentes ao rei Polidectes; o jovem Perseu, que vivia pobremente e já estava um pouco bêbado, ofereceu impetuosamente a cabeça de Medusa, a mais perigosa das Górgonas. O rei aproveitou a oportunidade e aceitou o presente de imediato.

Assim, Perseu acordou, no dia seguinte, com um problema e tanto: encontrar e matar um dos mais poderosos e perigosos monstros existentes.

Iconografia

A chuva de ouro sobre Dânae e Dânae com o bebê Perseu na arca de madeira foram representados diversas vezes pelos antigos decoradores de vasos de cerâmica.

Pouco antes da aventura de Perseu com as górgonas, na longínqua Etiópia, a rainha Cassiopéia colocou sua filha Andrômeda em graves apuros.


Paul Gustave Dore, Andromeda

Cassiopéia (gr. Κασσιέπεια) era mulher de Cefeu (gr. Κεφεύς), rei dos etíopes, e estava tão encantada com a própria beleza que se vangloriou, muito descuidadamente, de ser ainda mais bela que as próprias nereidas.

Afrontadas pela pretensão da rainha, as nereidas pediram ao deus do mar, Posídon, que as vingasse, e o deus enviou então um terrível monstro marinho para assolar a Etiópia. PAra completar, um oráculo avisou o rei que para salvar o país teria de sacrificar sua única filha, Andrômeda (gr. Ἀνδρομέδη), ao monstro.

Contrafeito, Cefeu teve que ceder, diante da pressão de seu povo, e ordenou que Andrômeda fosse amarrada a uma estaca, fincada em um rochedo à beira-mar, à disposição do monstro.

Felizmente, o monstro demorou um pouco a aparecer. Quando Perseu voltava de sua visita às Górgonas, deparou-se com Andrômeda presa ao rochedo. Apaixonou-se, salvou-a e levou-a consigo para a Grécia.

Iconografia


John Singer Sargent (1856-1925). Perseu. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/GO%20Sargent/perseus-florence.jpg!Large.jpg

Um tema utilizado pelos pintores e ceramistas gregos com alguma frequência foi o da indefesa princesa Andrômeda, presa ao rochedo do sacrifício.

O impetuoso Perseu havia se empenhado, inadvertidamente, em um empreendimento aparentemente impossível: levar ao rei de Sérifos, Polidectes, a cabeça de Medusa. A bem da verdade, ele nem sabia por onde começar... mas recebeu a ajuda de Atena e de Hermes, que o aconselharam a procurar as gréias e a extrair delas o segredo da derrota da górgona.

Perseu e as Gréias

Perseu conseguiu chegar à morada das três Gréias e, com habilidade, apoderou-se de seu único olho, quando uma delas o passava às outras. Para recuperá-lo, revelaram o paradeiro de sua irmã, Medusa, e informaram-no que, para vencê-la, era preciso procurar as ninfas, depositárias de três objetos essenciais: a coifa de Hades, presente dos ciclopes ao deus na época da titanomaquia e que tornava o portador invisível; sandálias com asas, que permitiam voar; e um alforje especial para guardar sem perigo a cabeça de Medusa.

O jovem encontrou as ninfas, que lhe entregaramos objetos sem qualquer problema. Hermes armou-o, então, com uma foice apropriada, recurvada e forte, e ele se dirigiu à morada das górgonas.

O fim de Medusa



Perseu procurou então as górgonas, e enfrentou Medusa enquanto as outras duas dormiam. Ajudado por Atena, que segurou para ele um escudo de bronze polido como um espelho, para que não olhasse diretamente para o monstro, conseguiu decapitar Medusa e guardar sua cabeça no alforje.

Medusa estava grávida de Posídon, e de seu pescoço cortado emergiram Pégaso, o cavalo alado, e o gigantesco Crisaor, que brandia uma espada de ouro. As duas outras górgonas acordaram e perseguiram Perseu, mas com a ajuda da coifa de Hades e das sandálias aladas ele conseguiu escapar.

O resgate de Andrômeda

Na volta para a Grécia, ao passar pela Etiópia, Perseu viu Andrômeda, a filha de Cefeu e Cassiopéia, amarrada à estaca junto ao rochedo, e se apaixonou. O herói conseguiu derrotar o monstro de Posídon com a ajuda dos preciosos objetos que recebera, e o rei Cefeu deu-lhe Andrômeda como esposa.

Quando ia embora, porém, Perseu teve de enfrentar Fineu, o noivo anterior da esposa, e também os amigos dele. Ansioso para chegar a Sérifos e diante de tantos adversários, retirou a cabeça da Medusa do alforje e simplesmente petrificou os inimigos.

De volta a Sérifos

Ao chegar a Sérifos, encontrou Dânae e Díctis refugiados no altar de um templo[1], pois Polidectes tentara apoderar-se de Dânae pela força. Homem de palavra, Perseu fez questão de dar ao rei o que prometera: dirigiu-se ao palácio e entregou-lhe a cabeça da górgona, mas depois de tirá-la do alforje protetor... Assim, Polidectes e mais os amigos que o acompanhavam transformaram-se em pedra.

Morto Polidectes, Perseu colocou Díctis no trono de Sérifos, devolveu os objetos preciosos a Hermes e presenteou Atena com a cabeça da górgona, que a deusa colocou no meio de seu escudo ou, de acordo com a versão, na égide.

Perseu na Grécia

Acertadas as coisas em Sérifos, Perseu dirigiu-se a Argos, pois queria se reconciliar com o avô, Acrísio, mas ele não se encontrava lá. Foi então a Larissa, na Tessália, participar dos jogos fúnebres organizados pelo rei Teutâmias em honra do falecido pai, e durante a competição de arremesso de disco matou acidentalmente o avô, que estava assistindo aos jogos.

Por causa dessa morte involuntária, o herói recusou o trono de Argos, e trocou-o pelo trono de Tirinto com seu primo Megapentes. Outras versões da lenda apresentam-no ainda como fundador de Micenas.

Iconografia



O salvamento de Andrômaca e a morte de Medusa foi uma das cenas favoritas dos artistas gregos. Perseu era mostrado ao degolar o monstro ou com a cabeça dela na mão; a fuga do herói, com as outras górgonas em seu encalço, era também representada com uma certa frequência. A imagem de Pégaso, com as asas abertas, era relativamente comum, especialmente nas moedas cunhadas em Corinto.

Perseu era cultuado em Sérifos e em um templo próximo de Argos. Em Atenas havia um local consagrado a ele.

Literatura

Acredita-se que a lenda medieval de "São Jorge contra o dragão" também foi influenciada por versões do mito de Perseu e Andrômeda, popularizadas na Ásia Menor durante o Império Romano. Esse popular mito cristão tem, no entanto, muitas outras influências, algumas bem mais antigas.

Notas

O altar dos templos gregos era território divino, sagrado e inviolável, um refúgio seguro para todos. Violar o altar, e até mesmo tocar o suplicante, era ofender diretamente o próprio deus do templo. Essa concepção foi assimilada posteriormente pelo Cristianismo e pela Igreja Católica.
f.: Portal grécia antiga
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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