"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!"(Nietzsche, A Gaia Ciência, §125).
41 A arte moderna expressa o medo, a última etapa do mito agonizante do homem virtuoso do humanismo, a derrota da consciência, a Morte de deus. Tudo o que já ligou o homem ao universo, à terra, ao tempo, ao espaço à matéria e à vida natural foi rejeitado ou destruído.
42 A ameaça ao triunfo da arte moderna é o degenerar-se em maneirismo e modismo.
246 De chirico, aspecto fantasmagórico das coisas, investigador trágico/místico, influenciado por Nietzsche. Transformar o nenhum sentido da vida em arte, o vazio terrível é a verdadeira beleza imperturbada e sem alma da matéria. Entrou no âmago do dilema existencial do homem moderno, que é o de Morte de deus, a perda do fator supremo que da significação à vida [1].
Muitas tribos primitivas creem num ente supremo que criou o mundo e o homem, mas depois os abandonou, e se retirou para o céu. Esse deus odioso vive isolado dos homens, indiferente às questões do mundo. Não tem culto, sacerdotes nem templos. Há uma ruptura nas comunicações entre céu e terra, o céu se afasta e a terra perde o status primordial paradisíaco: o homem perde a imortalidade e o poder de falar com animais, e passa a ter de trabalhar para viver. É o primeiro exemplo da Morte de deus de que fala Nietzsche /87-88. O Deus odioso é substituído por outros que estão mais próximos do homem e o ajudam. /90
Notas e adendos:
[1] f.: Jung, C. G. et allii (2000). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira.