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Lajolo. O que é literatura
Lajolo, Marisa. O que é literatura. São Paulo : Círculo do Livro, 1982, Coleção Primeiros passos. Ficha de leitura.
1 Para uma obra ser considerada literatura precisa do aval de certos setores mais especializados de uma dada tradição cultural: os intelectuais, a crítica, a universidade, a academia.
2 Clássicas: obras de um certo período da tradição literária, o s velhos autores de Grécia e Roma, ou os da Europa Renascentista.
3 Outra acepção: clássico é o excelente.
4 Outra: clássica é a obra considerada adequada para leitura dos estudantes, para consecução de objetivos escolares.
5 Há profunda relação entre as obras escritas num período e aquilo que nessas obras costuma ser identificado como o específico literário. Há diálogo ininterrupto entre a prática e a teoria da literatura.
6 O caráter humanizante e formador da literatura não vem da natureza ou quantidade de informações que ela propicia ao leitor. “literatura não transmite nada. Ela cria. Dá existência plena ao que, sem ela, ficaria no caos do inominado e, consequentemente, do não-existente para cada um. E, o que é fundamental, ao mesmo tempo que cria, aponta para o provisório da criação” (118).
7 Os poemas evocam em cada leitor sua palmeira e seu sabiá, que podem nem ter existido, mas cuja existência se pressente a partir da leitura.
8 Tanto Pasárgada quanto a terra de que Gonçalves Dias sente saudades têm existência apenas literária, nascidas da vivência dos poetas e recriadas na experiência dos leitores.
9 A própria criação da utopia se nutre sempre de uma imaginação ancorada na realidade.
10 “Os mitos e espaços poéticos nascem não só da realidade circundante, compartilhada por autor e leitores, mas também do diálogo com tudo o que, vindo de tempos anteriores, constitui a chamada tradição literária. É como se a literatura fosse um constante passar a limpo de textos anteriores, constituindo o conjunto de tudo – passado e presente – o grande texto único da literatura” (120).
11 “as definições apesar (ou por causa …) da pretensão à universalidade mostram as cicatrizes da classe de origem” (121).
12 “O passado só sobrevive em forma de linguagem” (121).
13 O máximo de liberdade é o direito de andar sozinho (Mário de Andrade).
14 “Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.” Fernando Pessoa.
15 Ecos gregos na poesia de Ricardo Reis: comedimento do tom, a sobriedade da dor e da alegria, a certeza da insignificância e da grandeza do homem.
16 Muitos povos, além dos gregos, entrelaçaram seu fazer diário à música, à dança, à poesia, mas como não eram umbigo do mundo sua cultura desapareceu. É o preço de não terem conquistado o mundo.
17 Para Platão a poesia era mentirosa, era a imitação da imitação.
18 Catarse: purificação das emoções por sua ampliação máxima.
19 Tanto Grécia e Roma quanto a Europa medieval são períodos em que a sociedade organizou-se segundo padrões muito rígidos de divisão de classes, diferenças sociais rígidas, gente separada de gente, homens com poder de vida e morte sobre outros. “E a literatura absorve e irradia tudo isso, mesmo que numa linguagem cifrada, inacessível para quem não a viveu em sua hora” (128).
(Apolo e o coro das musas)
20 “Os mundos fantásticos criados pelo texto não caem do céu, nem têm gênese na inspiração das musas. O mundo representado na literatura, simbólica ou realisticamente, nasce da experiência que o escritor tem de uma realidade histórica e social muito bem delimitada. o universo que autor e leitor compartilha, a partir da criação do primeiro e da recriação do segundo, é um universo que corresponde a uma síntese – intuitiva ou racional, simbólica ou realista – do aqui e agora que se vive” (131).
21 Nos tempos antigos o escritor era financiado por alguém rico e poderoso, e não precisava se preocupar com agradar ao público: não havia mercado.
22 Fim da idade média, vitória da burguesia, mundo aristocrático foi pelos ares, novo ciclo cultural, e essa virada, na literatura, virou romantismo. A literatura democratizou-se. O romance, descendente da epopéia clássica, se popularizou, atingindo público largo, de jornal, popular. A literatura romântica era fundada em emoção, fantasia, imaginação, sentimento, liberdade que se expressa na linguagem adotada, na musicalidade dos ritmos, na desobediência à razão cerceadora das peripécias, na concepção de personagens arrebatadas pela própria fantasia.
23 Em meados do século XIX leitores e autores já eram menos ingênuos. O sonho da liberdade-igualdade-fraternidade política acabou. A situação está mais para cortiços que para moreninhas. A representação de mundo proposta pelos românticos perdeu força e sentido.
24 A literatura começou a se pensar como documento. Ao homem emoção e sentimento seguiu-se o homem instinto, o homem corpo, o homem orgânico, se bem que a tomada de posse do corpo pela literatura veio acompanhada de sentimento de pecado e culpa.
25 O fim do século foi também o fim da crença na neutralidade da linguagem literária. Ruiu a concepção de uma significação única e linear. O que é próprio da literatura é encenar a própria linguagem. desacredita-se da realidade, e não da literatura. desacredita-se de uma realidade compreensível, de um real conversível a palavras, de um mundo cuja significação esteja no exterior da linguagem.
26 Machado vivia dizendo aos seus leitores que eles eram leitores, e ele era autor, e que o texto era apenas texto.
27 No Brasil a Tv veio antes do domínio da leitura. Somos um povo telespectador, nunca fomos leitores.
19/04/2013 10:10
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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