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O narrador na literatura



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novo:

Em Benjamim, de Chico Buarque, e em Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade, vê-se um novo tipo de narrador, que parece, mas não é, o narrador onisciente. É uma mistura deste com uma nova modalidade: "o narrador olho-mecânico, câmera cinematográfica, que narra o visível por meio da captação das exterioridades em flashes e closes, promovendo cortes próprios da técnica cinematográfica... o primeiro arroga-se o direito à onisciência e à onipresença (até onde lhe convém) e, machadianamente, não apenas mostra, mas analisa, opina e dialoga com o leitor. O segundo capta as exterioridades, introduzindo flashes cinematográficos que, ao se tornarem reincidentes, transformam-se em uma espécie de fio condutor da história. Em outros momentos, o olho-câmera passeia com desenvoltura pelo ambiente, na tentativa de fugir às cenas cujo detalhamento é proibido pela censura do autor. Enfim, descreve-se no livro apenas o que poderia, à época, ser mostrado em filme". "A perspectiva da narrativa apropria-se da técnica da câmera subjetiva do cinema". A intenção não é a de abolir as subjetividades, mas "deslocar o ponto de vista da narrativa, sair da reificação, em que inclusive o humano é tornado objeto, e partir para uma expressão do real, não mais através da verossimilhança, mas de um olhar que se lança diferentemente sobre perspectivas do real. No combate à reificação e na defesa do olhar em contínuo deslocamento" [1].

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29 Não existe narrativa sem narrador.

30 Função: foco narrativo e ponto de vista.

31 Dois tipos de narrador: primeira ou terceira pessoa.

§ 7. Tipos de narrador

I. Terceira pessoa: narrador observador:

32 a) onisciência e b) onipresença. Não apenas narra o que se passa com os personagens, mas também o que sentem; em outras palavras, ele sabe mais que os personagens. Variantes:

33 a) Narrador “intruso”: fala com o leitor ou julga os personagens.

34 b) Narrador “parcial”: se identifica com determinado personagem da história.

II. Primeira pessoa ou narrador personagem.

35 Variantes:

36 a) Narrador testemunha

37 b) Narrador protagonista.

38 Narrador não é autor, mas uma entidade de ficção, isto é, uma criação lingüística do autor, e por tanto só existe no texto.

X2008n Narratologia

249 O narrador é a entidade que conta uma história. É uma das três entidades em uma história, sendo as outras o autor e o leitor/espectador. O leitor e o autor habitam o mundo real. É função do autor criar um mundo alternativo, com personagens e cenários e eventos que formem a história. É função do leitor entender e interpretar a história. Já o narrador existe no mundo da história (e apenas nele) e aparece de uma forma que o leitor possa compreendê-lo.

250 Em inglês, para delimitar essa distinção, o autor é referido por he, o leitor por she e o narrador por it.

251 O conceito de narrador irreal (em oposição ao autor) se tornou mais importante com o surgimento da novela no século XIX. Até então, o exercício acadêmico de teoria literária investigava apenas a poesia (incluindo poemas épicos como a Ilíada e dramas poéticos como os de Shakespeare). A maioria dos poemas não têm um narrador distinto do autor, mas as novelas, com seus mundos imersos na ficção, criaram um problema, especialmente quando o ponto de vista do narrador difere significativamente do ponto de vista do autor.

252 Uma boa história deve ter um narrador bem definido e consciente. Para este fim há diversas regras que governam o narrador. Esta entidade, com atribuições e limitação, não pode comunicar nada que não conheça, ou seja, só pode contar a história a partir do que vê. A isso se chama foco narrativo.

31 Foco narrativo

253 Foco narrativo, ou ponto de vista, é o elemento estrutural da narrativa que compreende a perspectiva através da qual se conta uma história. É, basicamente, a posição a qual o narrador, enquanto instância narrante ou voz que articula a narração, conta a história. Os pontos de vista mais conhecidos são dois: Narrador-Observador e Narrador-Personagem.

254 Tipos de Foco Narrativo:

31.a Narrador Observador

255 O Narrador-Observador é aquele que conta a história através de uma perspectiva de fora da história, isto é, ele não se confunde com nenhum dos personagens. Este foco narrativo se dá, predominantemente, em terceira pessoa e pode ser dividido em:

256 Narrador-Observador Onisciente: É o narrador que tudo sabe sobre o enredo, os personagens e seus pensamentos. A onisciência do narrador pode ou não se limitar a apenas um dos personagens da história . Exemplos: Fielding, em Tom Jones; Leon Tolstói, em Guerra e Paz; Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector.

257 Omnisciente: um narrador que tudo sabe e tudo vê. Normalmente usado na literatura pela facilidade de narrar os sentimentos e pensamentos das personagens. Conta a história em 3ª pessoa, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo das personagens, conhece suas emoções e pensamentos.

258 Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece o narrador faz uso do discurso indireto livre. Assim o enredo se torna plenamente conhecido, os antecedentes das ações, suas entrelinhas, seus pressupostos, seu futuro e suas conseqüências.

259 Narrador-Observador Câmera: Este narrador não tem a ciência do que se passa nas mentes dos personagens da história, mas conhece tudo sobre o enredo e sobre qualquer outra informação que não sejam intimas da psique dos personagens. Exemplo: Goodbye to Berlin, romance-reportagem de Isherwood.

260 Observador: Também chamado de narrador-câmera. Limita-se a contar uma história sem entrar no “cérebro” ou “coração” das personagens. Conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os fatos e por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas.

31.b Narrador Personagem

261 O Narrador-Personagem é aquele que conta a história através de uma perspectiva de dentro da história, isto é, ele, de alguma forma participa do enredo, sendo um dos personagens da história, usando a Primeira Pessoa para se contar historia. Pode-se classificar o Narrador-Personagem em:

262 Narrador-Personagem Protagonista: Este narrador é a personagem principal da história, narrando-a de um ponto de vista fixo: o seu. Não sabe o que pensam os outros personagens e apenas narra os acontecimentos como os percebe ou lembra. Exemplos: Grande Sertão: Vereda, Guimarães Rosa; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

263 Narrador-Personagem Testemunha: É o narrador que vive os acontecimentos por ele descritos como personagem secundária. É um ponto de vista mais limitado, uma vez que ele narra a periferia dos acontecimentos, sendo incapaz de conhecer o que se passa na mente dos outros personagens. Exemplo: Memorial de Aires, de Machado de Assis; As Aventuras de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle.

264 Personagem: um narrador-personagem que tudo sabe a seu respeito, mas não em relação às personagens que o cercam nem pode ver o contexto com tanta clareza. Pode narrar uma história em que é protagonista (Memórias Póstumas de Brás Cubas) ou não, como o Blau Nunes de Lendas do Sul. Conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem.

265 Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer ao mesmo tempo essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.

31.c Narrador Intruso e Neutro

266 Uma das características de ambos o foco narrativo é a possibilidade de o narrador, enquanto relata a história, comentar sobre os mais diversos temas como o próprio enredo, a sua vida e a vida dos personagens ou sobre o cenário da narrativa. O narrador que faz este tipo de comentário é chamado de Intruso; o que não o faz, de Neutro.

267 Nada impede de que, numa mesma história, exista mais de um foco narrativo. O autor deve ter cautela ao executar a mudança do ponto de vista, evitando possíveis confusões no enredo e mau entendimento dos leitores.

268 Além disso o narrador pode ser seletivo, quando goza da onisciência apenas em relação a uma personagem, e instruso, quando não se limita a narrar, como também comenta a história e aspectos inerentes a ela.

32 Pessoa do narrador

269 Além da focalização, é importante notar na pessoa do narrador, seu nível narrativo, quais sejam:

270 Heterodiegético: o narrador não é personagem da história (forma mais comum na literatura). Ainda que seja um narrador intruso como o de As intermitências da morte, de Saramago, ele não é partícipe dela.

271 Homodiegético: o narrador é personagem, mas não protagonista. O exemplo mais comum é o Dr. Watson narrando as peripécias de Sherlock Holmes ou, trazendo para o Brasil, o já citado Blau Nunes de Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

272 Autodiegético: o narrador em primeira pessoa clássico, pois é protagonista da história. Novamente citamos Memórias Póstumas de Brás Cubas. É um narrador fundamental para a prosa intimista do século XX.

273 Heterodiegético: Não participante.

274 Autodiegético: Participa como personagem principal.

275 Homodiegético: Participa como personagem secundária.

276 Focalização: É a perspectiva adotada pelo narrador em relação ao universo narrado. diz respeito ao MODO como o narrador vê os fatos da história.

277 Focalização omnisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.

278 Focalização interna: o narrador adota o ponto de vista de uma ou mais personagens, daí resultando uma diminuição de conhecimento.

279 Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.

280 Focalização neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista( este modo não existe na prática, apenas na teoria).

281 Focalização restritiva: A visão dos fatos dá -se através da ótica de algum personagem.

282 Focalização interventiva: O autor faz observações sobre os personagens( típica dos romances modernos - Machado de Assis )

X2008n Narratologia, outro

16 Toda narrativa é narrada por um ponto de vista, que pode ser explícito ou implícito. No caso de reportagens, por exemplo, o narrador é o repórter que escreve ou apresenta a matéria. Na maioria dos romances e livros de literatura, o narrador é o autor da história (que pode assumir ou não uma identidade dentro da própria narrativa).

17 Pode ser, fundamentalmente, dos seguintes tipos (que às vezes se sobrepõem):

3.a (i) Onisciente

18 - quando tem conhecimento completo de toda a narrativa e todo os aspectos de cada personagem e situação; é o narrador mais comum na literatura clássica

3.a (ii) Incluso ou Participante

19 - quando participa da narrativa como um dos personagens; pode narrar em primeira pessoa ou apenas como observador

3.a (iii) Oculto ou Ausente

20 - quando não se mostra aparente


Notas e adendos:

[1] Mírian Sumica Carneiro Reis. Memória e olhar: a câmera subjetiva e a escrita cinematográfica em Benjamim, de Chico Buarque. In: Revista Garrafa, v. 30, abril-junho de 2013, ISSN 1809-2586 (Rio de Janeiro: UFRJ). Recuperado em 19/05/2015, 13h43m. aqui.
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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