parent nodes: Glossário de artes e narratologia | Roteiro de análise de obras artísticas


Modo narrativo



index do verbete

X2008n Narratologia

114 Aristóteles divide os modos da escrita literária, em sua Poética, entre o épico, o lírico e o dramático. A teoria da literatura, com o passar do tempo e o advento e popularização do romance enquanto gênero derivado do épico, mudou para a tríade Modo Narrativo, modo lírico e modo dramático (REIS, 2003). A narrativa é também um dos três modos básicos de redação, sendo os outros a descrição e a dissertação.

115 Basicamente narrar é contar uma história com uma clara linha do tempo. Para tanto, conta-se com personagens, cenários, conflitos, cenas. O estudo da narrativa e destes elementos é chamado de narratologia, comumente associado ao estruturalismo mas com referências na Poética grega e no formalismo russo.

116 A narrativa literária costuma se apresentar em forma de prosa, mas pode ser também em versos (Epopéia, Romanceiros). Se tivermos de definir o texto narrativo de forma sucinta, citando Carlos Reis diremos que o texto narrativo é um processo de exteriorização, uma atitude objetiva e baseada na sucessividade.

117 No século XX, a partir do estruturalismo, surgirá uma espécie de teoria semiótica da narrativa (ou narratologia) que propõe-se estudar a narratividade em geral (romances, contos, filmes, espetáculos, mitos, anedotas, canções, músicas, vídeos). Encabeçados por Roland Barthes, estes estudos pretendem encontrar uma “gramática” da narrativa, mais ou menos como Saussure encontrara para a fala. É a partir daí que surgem as fichas de leitura e os estudos sobre o narrador, os actantes, as estratégias narrativas de determinada escola, entre outros.

118 Roland Barthes, mestre no estudo da narrativa, afirma que “a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade. (...) é fruto do génio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma estrutura acessível à análise”.

12 Ação

119 A acção é o conjunto de acontecimentos que se desenrolam num determinado espaço e tempo. Aristóteles, em sua Poética, já afirmava que “sem acção não poderia haver tragédia”. Sem dificuldade se estende o termo tragédia à narração, e assim a presença de acção é o primeiro elemento essencial ao texto narrativo.

12.a Estrutura da Narração

120 A acção da narrativa é constituida por três acções: Intriga, Acção principal e Acção secundária.

121 Intriga: Acção considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma acção fechada.

122 Acção principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.

123 Acção secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.

12.b Sequência

124 A acção é constituida por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos:

125 Encadeamento ou organização por ordem cronológica

126 Encaixe, em que uma acção é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma

127 Alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente

128 pela forma que foi escrita esse eu lirico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura.

129 A ação pode dividir-se em:

130 Apresentação ― é o momento do texto em que o narrador apresenta os personagens, o cenário, o tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimentos (fatos).

131 Desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois personagens). A paz inicial é quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva.

132 Clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insustentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva.

133 Desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito.

12.c Tempo

v. Tempo no romance

12.d Personagens

v. Personagens, estudo

12.g Espaço ou Ambiente

v. Paisagem

13 Sucessão e Integração

158 Claude Bremond, ao definir narrativa, acrescentará a sucessão e a integração como essenciais para a narratividade: “Toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessão de acontecimento de interesse humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão não há narrativa, mas, por exemplo, descrição, dedução, efusão lírica, etc. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não relacionados”.

14 Totalidade de significação

159 A totalidade de significação é apontada por Greimas como outro elemento fundamental da narrativa. Ainda que aparentemente o leitor não entenda um texto, há de ter nele uma significação para que se configure como história, como narração.

15 Em prosa e verso

160 Apesar de aparecer comummente em prosa, a narração pode existir em versos. Os exemplos clássicos são as epopéias, como a Odisséia, ou os romanceiros, como o Romanceiro da Inconfidência. Mas poemas como O Caso do Vestido e Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, são verdadeiras narrativas em versos, com acção, personagens, sucessão, integração e significação.

16 Enredo

161 Enredo é o encadeado de ações executadas ou a executar pelas personagens numa ficção, afim de criar sentido ou emoção no espectador. Em Inglês é o “Plot”, usado para designar todos os eventos de uma história para se obter um efeito emocional e artístico---o que acontece na história. O enredo, ou trama, ou intriga, é, podemos dizer, o esqueleto da narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos. É, também, um relato de fatos vividos por personagens e ordenados em uma seqüência lógica e temporal, por isso ele se caracteriza pelo emprego de verbos de ação que indicam a movimentação das personagens no tempo e no espaço. Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa.

162 Enredo é o conjunto de fatos ligados entre si que fundamentam a ação de um texto narrativo.

163 O enredo pode ser organizado de várias formas. Observe a mais comum:

164 Situação inicial - os personagens e espaço são apresentados.

165 Quebra da Situação Inicial - um acontecimento modifica a situação apresentada.

166 Estabelecimento de Um Conflito - Surge uma situação a ser resolvida, que quebra a estabilidade de personagens e acontecimentos

167 Clímax - ponto de maior tensão na narrativa.

168 Epílogo - solução do conflito. Obs.: essa solução não significa um final feliz.

X2008n Narratologia, outra parte

201 O clímax, numa narrativa, é o ponto alto de tensão do drama.

202 Na cultura clássica as análises ficcionais da narrativa focavam apenas o drama e o modelavam de acordo com a comédia (no sentido de um drama com final feliz), e tragédia (um drama com final triste). Muitas destas análises permanecem na narrativa moderna, incluindo a identificação do clímax, o que explica eventuais dificuldades em identificarmos o clímax numa história mais moderna.

203 Por definição o clímax ocorre a partir do desenvolvimento de um conflito, imediatamente antes do desfecho. É o momento mais perigoso do herói, a crise mais eminente do protagonista, o mais delicado ponto do conflito, onde não se sabe para que lado a história penderá.

204 Em O vermelho e o Negro, por exemplo, o clímax pode ser visto como o momento em que Julien descobre que a Sra. de Rênal escreveu uma carta ao Marquês de La Mole e, furioso, atira na mulher. As cenas seguintes serão o desfecho, a prisão, a condenação, a morte.

205 Já em Romeu e Julieta o clímax está mais próximo do final da história, quando Julieta decide se fingir de morta, causando o trágico e conhecido desfecho.

206 Na tragédia clássica, como Édipo Rei, de Sófocles, o clímax ideal se dá junto com a peripécia e o reconhecimento, ou seja, quando o herói passa da ignorância para a ciência e isso muda o seu destino. No caso de Édipo o clímax, então, é quando ele percebe que fora assassino de seu pai e está casado com sua mãe.

X2008n Narratologia bis

6 A estrutura de uma narrativa é a forma pela qual ela é construída para organizar o andamento da trama. Os primeiros estudos sobre estruturas narrativas remontam ao grego Aristóteles, que em sua obra Poética descreveu as características do bom drama (segundo ele e o pensamento grego da época; clássico). A Poética aristotélica se atém às artes narrativas da época, eminentemente teatro e poesia. Nas décadas de 1920 e 1930, as pesquisas dos formalistas russos em teoria literária levaram a atualizações da poética aristotélica a narrativas da cultura popular (contos de fadas e folclore), como feito por Vladimir Propp.

2 Modo narrativo

7 1Épico - narrado por meio da seqüência de eventos (episódios)

8 2Lírico - narrado por meio da linguagem verbal em harmonia com a música ou a musicalidade das palavras

9 3Dramático - narrado por meio da representação/interpretação

10 4Eixo dramático

11 Clímax - o ponto de mais alto drama ou tensão da história, a partir do qual a trama se desfaz e se encaminha à resolução; pode incluir uma catarse

12 Desmedida - ação que se prova equivocada e desata a peripécia

13 Peripécia - mudança do destino do personagem

14 Nos tempos mais recentes, os estudos de narratologia têm sido apropriados por autores de manuais de roteiro para cinema e televisão, como o estadunidense Syd Field e o francês Jean-Claude Carriére. No Brasil, um livro famoso na área é “Roteiro”, de Doc Comparato. Ver também a referência ao Memorando de Vogler, abaixo.

15 De forma geral, todas as narrativas se compõem de elementos básicos como o narrador, o cenário e os personagens, que são distribuídos em diferentes categorias. No caso das narrativas de ficção (na literatura, em filmes, cordéis, telenovelas e diversos outros), os personagens são elementos fundamentais, geralmente divididos entre dois lados antagônicos identificados como “bem” e “mal”. No entanto, a literatura e o cinema mais recentes (típicos da pós-modernidade) tendem a rejeitar esta dicotomia, em nome de uma verossimilhança obtida por detalhamentos mais profundos dos objetivos e características de cada personagem. Quando os personagens são claramente identificados com um lado ou com outro, ou ainda quando se prendem a estereótipos, diz-se que são “planos” (ou “rasos”), enquanto quando esta identificação é mais complexa, diz-se que são “esféricos” (ou “profundos”).

3.a Narrador

v. O narrador na literatura

3.b Personagens

v. Personagens tipo

3.c Cenário

v. Paisagem
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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