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X2008n Narratologia



index do verbete

miscmisc

1. Humor, bizarro, caricatura, exagero, inverossimilhança, o fantástico, são truques que o escritor pode usar para captar e manter a atenção do leitor, especialmente quando quer passar uma mensagem ou contar uma história que, despida de artifícios, seria antipática, ou insuportável.

2. De todas as coisas admiráveis, nada é mais espantoso que o homem (Sófocles, Antigona, apud ngeo fev 2000).

3. Italo Calvino, Por que ler os clássicos: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.

4. Atribuído a Capistrano de Abreu, não sei se é verdadeiro: "Se o estilo é o homem, todo livro é um problema psicológico digno de estudo, e se a curiosidade estética não se satisfaz, a teoria científica do espírito sempre aproveita com seu exame". (tirados da internet: "A tradição memorizou a famosa frase de Buffon: "O estilo é o homem"" ... "Há um comentário de Lacan, um pouco irônico; o autor da frase " o estilo é o ... Ao dizer "o estilo é o homem" , traduzia na realidade sua fantasia de grande ...".

5. o uso excessivo de “coincidências” como muletas de roteiro, fazendo o livro perder um pouco seu valor

6. segue ainda muito dos elementos tradicionais do Sci-Fi: o desenvolvimento científico humano é o eixo central da história, sendo tanto fonte como possível solução para trama apresentada.

O valor estético é algo impossível de ser provado.

O valor estético é estatístico.

Mas no ensino médio, na imprensa, em toda a parte os professores, os jornalistas e os demais formadores de opinião continuam escamoteando a subjetividade do gosto, continuam se passando por donos da verdade estética.

[...]

Como na retórica da política e na da religião, também na retórica da estética o pensamento de grupo, o efeito adesão e o viés da autoconveniência são os vícios mais comuns. Relembremos as principais tendências de nossa mente durante um debate:

1. Viés de confirmação: tendemos a dar ouvidos somente aos argumentos que apoiam nossa crença, por mais absurdos que sejam.

2. Pensamento de grupo: por medo de sofrer uma represália, tendemos a trocar nossa crença pela crença de todos ao nosso redor.

3. Efeito adesão: tendemos a acreditar em algo, sem pestanejar, apenas porque muitas outras pessoas também acreditam.

4. Viés de autoconveniência: pra não perder um benefício (amizade, emprego, prestígio), tendemos a aceitar a crença do nosso grupo social, profissional, etc.

5. Cascata de disponibilidade: quanto mais uma crença é repetida pela opinião pública, mais tendemos a aceitá-la como verdadeira.

6. Simplificação do problema: diante de qualquer questão polêmica, tendemos a tomar partido rapidamente, sem analisar todos os argumentos.

7. Problema de calibração: tendemos a acreditar que somos mais sensatos e inteligentes que a maioria.

8. Ilusão de controle: tendemos a acreditar que podemos controlar o resultado de eventos aleatórios (essa é a base das superstições).

o homem comum na literatura

"O valor estético, sempre dependente da verossimilhança e da coerência das partes constituintes de uma narrativa, e a verdade empírica, muitas vezes inverossímil e incoerente, raras vezes andam juntos"

"Nas sociedades divididas em classes, cada classe procura a todo custo recrutar a arte, colocá-la a serviço de seus propósitos particulares. Nessa briga vence o grupo que tiver maior poder de persuasão retórica e econômica: em cem por cento dos casos, a elite. Por isso a literatura disse e ainda diz tanto sobre a aristocracia, refletiu e ainda reflete tanto seus hábitos e costumes, mesmo quando pensa estar falando dos hábitos e costumes do proletariado".

"A efemeridade da crônica — gênero do tipo conversa fiada, que nas mãos desses autores transfigura o efêmero e o corriqueiro em epifania — sem dúvida parece ser, na prosa, o terreno ideal do homem comum."

"O homem comum de certa maneira é o mais curioso dos truques literários. [...] Para o bom observador não existem homens comuns na literatura seja de que gênero for. Simplesmente porque o talento do escritor faz de todas as suas personagens criaturas incomuns, únicas, [...]"

"Definição provisória de homem comum: indivíduo responsável pela sanção e manutenção das normas ditadas pela elite dirigente. Vale dizer, já que as regras precisam ser sancionadas pela maioria, o homem comum, normal, é o elemento uno e indivisível formador dessa mesma maioria."

NELSON DE OLIVEIRA para Rascunho

por que quadrinhos são interessantes?

Porque a margem de erro, isto é, o percentual de porcarias no conjunto da produção, é muito mais alta do que nos outros meios de expressão. Deve haver, digamos, um filme bom para cada 50 ruins. Nos quadrinhos, provavelmente não passamos de um trabalho bom a cada 300 ruins, algo assim.

É que, primeiro, se trata de uma arte pouco rentável, porque é vista com preconceito, e o mercado é bem pequeno, comparado com o mercado livreiro, ou do cinema. Segundo, o ciclo produtivo é peculiar, porque quadrinhos são obras coletivas, como o cinema, mas o criador principal (o roteirista) tem muito menos controle sobre o produto final do que o diretor de cinema.

excesso de enredo

É um recurso para não submeter a obra a uma análise de motivação mais profunda (ideia de Woods). O escritor que se esconde atrás da abundâcia de enredo faz como o mágico que cerca o truque de música, luzes, plumas e brilhos, ajudantes de maiô e coreografias expressivas, tudo para levar o olhar do espectador para fora do centro da questão, e disfarçar o fato de que ali não há mágica nenhuma, só truque.

coisas para incluir no Roteiro de análise de obras artísticas

  1. relações de poder
  2. âmbito da memória, do símbolo, dos padrões; âmbito da intenção? âmbito da estética
  3. personagem ausente
  4. o autor acredita em redenção?
  5. índices de qualidade de um texto: sutileza (capacidade de dizer sem demonstrar esforço); matreirice (capacidade de incutir uma ideia de forma sub-reptícia). O contrário, defeitos do texto: o autor mostra que está tentando agradar, e o autor deixa claro que está tentando vender uma ideia.

o que é arte, e para que serve, minhas opiniões provisórias

m.c.:

Entre tantas divergências, parece quase certo que arte está relacionada com beleza. Como a beleza, a arte é algo que todos sabem o que é (reconhecem, quando veem), mas ninguém sabe definir. Daí que ambas estão fora do âmbito da matéria de razão. São do âmbito da emoção.

Funções da arte. Vejo pelo menos duas: a) expressar o que não pode ser apreendido racionalmente nem explicado (a condição humana? o significado/sentido da existência?); b) documentar o espírito de sua época (seja lá o que for isso). Talvez coubesse uma terceira: dado que cada ser humano contempla o mundo de um ponto de vista único (único em dois sentidos, porque ninguém mais vê o mundo do meu ponto de vista, e porque eu não posso ver o mundo a partir dos olhos de outro), o máximo que um homem pode fazer ao longo da sua existência é comunicar aos outros o que viu do seu mirante personalíssimo (claro que isso vale também para a filosofia).

Qualidades da obra literária: a) a intenção do autor é perceptível, mas não é óbvia, b) há verossimilhança (coerência interna), c) tem estilo, d) o autor segue fielmente a fórmula escolhida (um escritor transparente é bem transparente, e um escritor opaco é um virtuose da palavra), e) os personagens são convincentes (não precisa ter história, mas não há literatura sem personagem, ao menos um, o narrador), f) é bom para ser relido (não perde o atrativo quando você já sabe o final).

Grande Sertão nunca será uma obra prima porque é intraduzível?

Um livro nunca é bom se o escritor aparece demais e demonstra que está se esforçando para impressionar o leitor.

Acima de qualquer outro sentimento ou preocupação que um escritor possa ter, está a preocupação com a escrita, com a literatura. De forma que é muito provável que um livro sempre diga algo sobre a literatura, os livros, o ofício de escrever.

A arte não precisa, e não pode, mostrar a realidade. Mas pode mostrar verdades. Ela visa invocar sentimentos, e para cada leitor os seus sentimentos são verdadeiros, são a única verdade acessível. É curioso que a arte, para ser duradoura, deva ser universal e, no entanto, a única experiência vital acessível, ao criador e ao leitor, é a pessoal, individual. O único ser humano que cada humano conhece realmente é ele mesmo. De forma que o autor não pode falar verdadeiramente de nada que não seja ele mesmo; e a única pessoa que o leitor pode reconhecer em qualquer obra é ele mesmo. Mas como estamos limitados a duas fontes de informação sobre o universo (nossos sentidos e nossa mente), os sentimentos que uma obra de arte puder despertar são necessariamente significativos para o fruidor, porque são parte do seu universo individual. 05/07/2015, 22h59m..

coisas que estavam na miscelânea provisória sobre arte

“Escreva para expressar, não para impressionar” Gregory Ciotti.

a homologia do psíquico, do cósmico, do social e mesmo do biológico (apresentação do livro de G. Durand aqui).

Textos transparentes e opacos. O 1º quer que o leitor esqueça o texto e preste atenção somente na história contada. O 2º coloca o texto em primeiro plano, a narrativa é tão ou mais importante que a história (a linguagem é o show). Sobre isso, de Mário Quintana (Mário Quintana, A Vaca e o Hypogrifo, p. 110):
García Márquez costuma dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. “E qual seria o seu?”, perguntaram-lhe. “O livro da solidão”, foi a resposta.

George R. R. Martin disse que existem dois tipos de escritores: arquitetos e jardineiros. Os arquitetos desenvolvem suas ideias de história antes de começar a escrever. Decidem de antemão quem são os personagens, os principais acontecimentos do enredo e o que estão tentando comunicar com seus textos. Os jardineiros apenas plantam uma semente de ideia na página em branco e desenvolvem sua história a medida que ela vai crescendo e ganhando vida fonte.

A rugosidade do real desaparece na planura da análise.

Pode-se classificar os artistas conforme o maior ou menor peso conferido a essas duas fontes primordiais, o real e o imaginário.

Não há histórias novas a contar, só se pode variar a ênfase, a técnica, a linguagem.

Obras onde quase nada acontece na superfície mas há grande movimento de forças nas profundezas.

formulista

oposição meramente esquemática

Sobre Antonioni: um olhar que privilegia, acima de tudo, a composição visual, com movimentos de câmera econômicos e precisos e uma atenção que dá aos espaços e pasiagens um valor tão expressivo quanto aas pessoas. Os dilemas do indivíduo recebem mais atenção que o discurso sobre a sociedade. Interesse predominante pela subjetividade. ... 'O deserto vermelho é mais uma série de telas emolduradas em tempo que o tipo de espetáculo dramático que temos chamado de cinema'. Rejeita a narrativa clássica e privilegia a contemplação à ação.

Hitchcock: valorização das personagens, sempre presentes e tratadas de maneira individualizada. Mais frequentemente uma ou poucas, e não grupos numerosos. Filmadas de perto, mostrando rostos. Paisagens raras e quando existem são dramatizadas, intimamente ligadas à ação. Não há momentos de contemplação. Todas as imagens dependem de uma vontade preponderante de narrar. O filme é subordinado à narração, sublinhando o comportamento das personagens. (Colli)

'O Moderno não é o termo estático de uma oposição fácil. O moderno é, ao contrário, uma dificuldade ativa em seguir as mudanças do Tempo, não mais apenas ao nível da grande História, mas por dentro dessa pequena história cuja medida é a existência de cada um de nós'. Roland Barthes. m. c.: o moderno está perto de nós e por isso não conseguimos ter visão de conjunto, e não o entendemos?

A economia narrativa contemporânea entende que as descrições devem ser mínimas, ou inexistirem. Mas no nouveau roman, movimento de sabotagem programática do modelo burguês (décadas 50-60) abusava das descrições, fazendo do narrador e do leitor observadores de um real esvaziado de sentido. Ler era ver espaços e objetos em relações de descontinuidade. (Antonio Sanches Neto, provavelmente em Revista Metáfora 7, abril 2012).

notas diversas sobre literatura, do Rascunho

Cena - cenário - digressão. Cena sobre cena. Cena = personagem + ação + sequência. Digressão disfarçada de cena (primeiro capítulo do Dom Casmurro). Cenário humano.
xz
O andar do bêbado, best seller físico de Leonard Mlodinow.

John Cage: Diário: como melhorar o mundo (você só tornará as coisas piores).

José Rezende Jr.: eu perguntei pro velho se ele queria morrer

Visconde de Taunay: a retirada de laguna

A passagem tensa dos corpos, carlos de brito e mello.

filmes a ver: mal dos trópicos, tokyo sonata

música: irene papas, tributo a noel.

Luiz Bras. A crítica é cara ou coroa. Livros são propostas de civilização. O crítico não revela a essência oculta do livro, porque ela não existe. O crítico defende ou ataca o tipo de civilização que o livro defende. Clarice e G. Rosa venceram porque o pós humanismo é disforme, esquisito, desarmônico, miscigenação. As pessoas racionalmente preferem a luz e o equilíbrio mas escolhem o assustador, o aterrador, o estranho e disforme, a arte degenerada. As leis do desejo são mais fortes que as da razão. O classicismo recua, o maneirismo e o grotesto romântico triunfam.

A literatura é um potente instrumento de interpretação do mundo, não porque forneça respostas, mas porque é uma máquina de perguntas. José Castello.

adaptações americanas de filmes estrangeiros

12/02/2014, 16h53m.

m.c.: Acerca do que o cinema americano faz, quando refilma obras estrangeiras: simplifica, idealiza (ou padroniza) e acelera. Simplifica (ou idealiza) os personagens, não necessariamente melhorando-os do ponto de vista moral, mas aplainando-os, retirando nuances e complexidades, reduzindo-os aos estereótipos mais tradicionais. Idealiza ou padroniza o conteúdo adaptando-o à tradição de contar uma história com começo, meio, fim e "mensagem". Acelera incluindo reviravoltas, conflitos, subtramas, o que for necessário para criar "movimento" e tensão.

o que caracteriza o cinema de padrão americano?

12/02/2014, 16h58m.

m.c.: O filme conta uma história. Tem protagonista e antagonista, conflito e clímax. Personagens de nenhuma ou baixa complexidade correspondendo a padrões facilmente identificáveis. Câmera a serviço da narrativa: toda imagem deve contar a história, toda cena deve fazer a história avançar. Trilha sonora ditando a emoção esperada. Superabundância de recursos para ampliar as sensações (de movimento, de tensão, de ação, de alívio).

23 jan 2010

Fonte perdida. Acho que é um comentário de Borges sobre Henry James:

Antes de expressar o que é, um habitante resignado e irônico do Inferno, corre o risco de parecer como um mero novelista mundano. Iniciada a leitura, nos incomodam algumas ambiguidades, certo traço superficial. Trata-se da voluntária omissão de uma parte da novela, o que nos permite interpretá-la de uma maneira ou de outra, ambas premeditadas pelo autor. Os fatos, para ele, são meras hipérboles ou ênfases da trama, meras metáforas. As situações não surgem dos caracteres, estes foram imaginados para justificar aquelas.

funções da obra de arte?

Esta é uma lista de funções dos símbolos religiosos vikings, de um artigo que está no g. drv.. Mas acho que qualquer obra de arte pode ter essas mesmas funções:

a) dar significado ao drama escatológico, e portanto, existencial do ser humano;

b) ser "presença viva do invisível";

c) ser mediadora entre o divino e o humano;

d) refletir o ser, o sonho e a experiência visionária;

e) fornecer conteúdo psicológico para a Memória e a tradição oral;

f) ser exemplum, referenciais de identidade para uma sociedade.

peripécia e enredo psicológico para Gasset

Por volta de 1882, Stevenson observou que os leitores britânicos desdenhavam um pouco as peripécias e achavam ser prova de grande habilidade escrever uma novela sem argumento ou com argumento infinitesimal atrofiado. José Ortega y Gasset — em A desumanização da arte, 1925 — trata de explicar o desdém observado por Stevenson e, na página 96, declara "ser muito difícil, hoje em dia, inventar uma aventura capaz de interessar à nossa sensibilidade superior" e, na página 97, ser essa invenção "praticamente impossível". Em quase todas as outras páginas, faz a apologia da novela "psicológica" e opina ser o prazer das aventuras inexistente ou pueril. Tal é, sem dúvida, o parecer comum em 1882, em 1925 e ainda em 1940 (Jorge Luis Borges, prólogo d'A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares).

Idéias sobre crítica literária e análise de obras tiradas do jornal Rascunho:

Todo relato narra uma viagem ou um crime, diz o escritor e ensaísta Ricardo Piglia, logo toda história seria Ulisses ou Édipo (CAROLA SAAVEDRA, A volta dos que foram, Jornal Rascunho)

Antetexto

m.c.: não lembro de onde tirei isso:

214 não só os manuscritos, mas as anotações, rabiscos, rasuras, enfim, tudo o que um escritor reúne para preparar um texto configura o “antetexto”… O material que precede o texto literário em si. O estudo do antetexto de uma obra pode ser relevante para o entendimento de como ela se desenvolveu, ou, no caso de obras incompletas, como ela acabaria. É o caso da parte final de “120 Dias de Sodoma” do Marquês de Sade, que só existe na forma de anotações, ou de “As Crianças” de Dostoiévski, que não existe nem como manuscrito, mas nos foi legado através de comentários em cartas e algumas notas esparsas. Em alguns casos o antetexto é crucial para a existência de uma obra, como acontece com “O Silmarillion” que foi escrito postumamente à partir das anotações e manuscritos de JRR Tolkien.
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
INI | ROL | IGC | DSÍ | FDL | NAR | RAO | IRE | GLO | MIT | MET | PHI | PSI | ART | HIS | ???