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Monomito


index do verbete
Odisseu enfrenta as sereias. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/_BKICG2OWH9FC9V4S350O.jpg

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O mito do herói é o mais comum e conhecido. Caracteres: a) nascimento humilde mas milagroso; b) provas precoces de força; c) ascensão rápida ao poder; d) luta triunfante contra forças do mal; e) falibilidade ente o orgulho (hybris); f) declínio, por traição ou ato de sacrifício onde morre; g) figuras tutelares (guardiões).

Atribuição essencial do mito heróico é desenvolver no indivíduo a consciência do ego, o conhecimento de suas próprias forças e fraquezas. Aproximar-se da fonte interior de energia que o arquétipo do herói representa; desenvolver a anima; através do ato heróico libertar-se da mãe.

Quando o indivíduo entra na maturidade o mito do herói perde relevância. A morte do herói assinala a conquista da maturidade. A morte do herói é a cura necessária para a hybris, o orgulho cego.

A jornada do herói de Campbell. Resumo: mundo comum, chamado, relutância, mentor, portal, barriga da baleia, grande batalha, morte simbólica, ressurreição ou renascimento, regresso com elixir.

1. Mundo Comum: O mundo normal do herói antes da história começar.

2. O Chamado da Aventura: Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.

3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado: O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.

4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural: O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.

5. Cruzamento do Primeiro Portal: O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.

6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia: O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.

7. Aproximação: O herói tem êxitos durante as provações

8. Provação difícil ou traumática: A maior crise da aventura, de vida ou morte.

A carruagem da lua (Camboja). O último ato da biografia do herói é a morte ou partida. Aqui é resumido todo o sentido da vida. Desnecessário dizer, o herói não seria herói se a morte lhe suscitasse algum terror; a primeira condição do heroísmo é a reconciliação com o túmulo. f.: Campbell, J. (1949). O herói de mil faces. Trad. Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Cultrix/ Pensamento, 1990 (ed. original 1949). Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/image087.jpg


9. Recompensa: O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).

10. O Caminho de Volta: O herói deve voltar para o mundo comum.

11. Ressurreição do Herói: Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.

12. Regresso com o Elixir: O herói volta para casa com o “elixir”, e o usa para ajudar todos no mundo comum. ~s009r

X2008n Narratologia

4 Idéia

29 O “monomito” (às vezes chamado de “Jornada do Herói”) é um conceito de jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell. Como conceito de narratologia, o termo aparece pela primeira vez em 1949, no livro de Campbell The Hero with a Thousand Faces (“O Herói de Mil Faces”) (1). No entanto, Campbell era um conhecido estudioso da obra de James Joyce (em 1944 publicara, em co-autoria com Henry Morton Robinson, a resenha A Skeleton Key to Finnegans Wake, “Uma Chave-Mestra para Finnegan's Wake”(2)) e tomou emprestado o termo monomyth (monomito) do conto Finnegan's Wake, do autor irlandês.

30 O padrão do monomito foi adotado por George Lucas para a criação da saga Star Wars, tanto na trilogia original quanto suas “preqüências”.

31 O roteirista de Hollywood e executivo da indústria cinematográfica Christopher Vogler também usou as teorias de Campbell para criar um memorando para os estúdios Disney, depois desenvolvido como o livro “The Writer's Journey: Mythic Structure For Writers” (A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas). Este trabalho influenciou os 10 filmes produzidos pela empresa entre 1989 (A Pequena Sereia) e 1998 (Mulan), além da trilogia Matrix dos irmãos Wachowski.

32 A idéia de monomito em Campbell explica sua ubiqüidade por meio de uma mescla entre o conceito junguiano de arquétipos, forças inconscientes da concepção freudiana, e a estruturação dos ritos de passagem por Arnold van Gennep.

33 Desde o final dos anos 1960, com o advento do pós-estruturalismo, teorias como as do monomito (que são dependentes de abordagens baseadas no estruturalismo) perderam terreno nos círculos acadêmicos. Este padrão da “jornada do herói” ainda é influente entre artistas e intelectuais mundo afora, no entanto, o que pode indicar a utilidade contínua e a influência ubíqua dos trabalhos de Campbell (e assim como evidência sobre a importância e validade dos modelos psicológicos Freudiano e especialmente Junguiano).

5 Estrutura


34 O monomito está dividido em três seções: Partida (às vezes chamada Separação), Iniciação e Retorno.

35 A Partida lida com o herói aspirando à sua jornada; a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho; e o Retorno é o momento em que o herói volta a casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada.

36 Isto foi estabelecido por Joseph Campbell na primeira parte de O Herói de Mil Faces, intitulada “A Aventura do Herói”. A tese do autor é de que todos os mitos seguem essa estrutura em algum grau. Para citar vários exemplos, as histórias de Prometeu, Osíris, Buda e Jesus Cristo todas seguem este paradigma quase exatamente, enquanto a Odisséia apresenta repetições freqüentes da Iniciação, o conto da Gata Borralheira (Cinderela) segue esta estrutura um tanto mais livremente e até mesmo o anime Cãezinhos de Sorte se vale de alguns estágios.

6 Os 12 Estágios da Jornada do Herói


37 1. Mundo Comum - O mundo normal do herói antes da história começar.

38 2. O Chamado da Aventura - Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.

39 3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado - O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.

40 4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.

41 5. Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.

42 6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.

43 7. Aproximação - O herói tem êxitos durante as provações

44 8. Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte.

45 9. Recompensa - O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).

46 10. O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum.

47 11. Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.

48 12. Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o “elixir”, e o usa para ajudar todos no mundo comum.

sobre Campbell e Vogler


107 O antropólogo e ensaísta estadunidense Joseph Campbell é um dos maiores responsáveis pela divulgação da narratologia, com suas obras “A Jornada do Herói”, “O Herói de Mil Faces”, “O Poder do Mito” e o conceito de monomito (adaptado de James Joyce), segundo o qual todos os grandes mitos-fundadores das culturas humanas seriam, em última análise, um só. Para Campbell, a imensa maioria dos mitos trabalha com heróis arquetípicos Esta abordagem estende uma visão estruturalista das narrativas, procurando nelas determinados paradigmas e estruturas que se repetem, a despeito de contextos culturais e históricos.

108 Campbell, que trabalhava com mitologias comparadas, delimitou os passos e percursos possíveis do herói arquetípico, que viveria um “ciclo” em sua “jornada” (trajetória do anonimato à consagração). Ele se baseou nas idéias de Carl Jung sobre o simbolismo na interpretação dos sonhos e na pesquisa de Wilhelm Stekel sobre a aplicação de temas do imaginário e do inconsciente humano à ficção (em literatura, teatro e cinema). O etnógrafo Franz Boas e o antropólogo Leo Frobenius também influenciaram a visão de história cultural do pesquisador.

109 O trabalho de Campbell influenciou diversos outros pensadores, mas também artistas, cineastas como George Lucas e escritores como Christopher Vogler (ver abaixo). Lucas, especificamente, usou a idéia do monomito e as propriedades do “ciclo do herói” descritas em “O Herói de Mil Faces” para elaborar sua obra-prima Star Wars, a saga de um escravo que chega a ser tirano de uma galáxia e por fim alcança a redenção, num tempo e espaço remotos. Em “O Poder do Mito” (transcrição de uma longa série de entrevistas dada pelo antropólogo ao jornalista e documentarista Bill Moyers), Campbell comenta a estrutura de Star Wars e analisa as correspondências mitológicas de personagens e situações da saga (como a luta entre Luke e Anakin correspondendo a Édipo e Laio). Por sinal, as entrevistas foram realizadas no Skywalker Ranch, o rancho (sítio ou fazenda) de George Lucas na Califórnia. Outro documentário sobre a obra de Campbell é “The Hero's Journey” (A Jornada do Herói), filmado por Janelle Balnicke e David Kennard com entrevistas feitas por Phil Cousineau.

10 Vogler, memorando de

110 Em 1989, o executivo dos estúdios Walt Disney Christopher Vogler redigiu e fez circular um memorando interno intitulado “Guia Prático para o Herói de Mil Faces”, no qual identificava um modelo específico de estrutura narrativa bem-sucedida para desenhos animados de longa-metragem e propunha aos roteiristas que se inspirassem nele para elaborar novas histórias que se tornassem sucesso de bilheteria. Na década seguinte, o memorando foi publicado como o livro “A Jornada do Escritor” e chamou a atenção dos roteiristas de Hollywood como uma fórmula rígida e garantida de fazer sucesso com desenhos longas na indústria cinematográfica. O texto, que ficou conhecido como “O Memorando de Vogler”, tornou-se canônico em Hollywood e inspirou também outros roteiros, não só de desenhos de estúdios concorrentes (como “Formiguinhaz”), mas inclusive filmes com atores (como a série Matrix).

111 De fato, os 10 longas-metragens produzidos pelos estúdios Disney entre 1989 (A Pequena Sereia) e 1998 (Mulan) seguem a mesma estrutura narrativa paradigmática, como pode ser verificado na análise feita sobre “O Paradigma Disney“. Em todos eles, com ligeiras adaptações, o protagonista é uma pessoa excluída de seu meio social (como Aladdin em Agrabah e Hércules entre os gregos) que sonha com uma vida distinta (o que é representado em canções como “Part of Your World”, “Where I Belong” e “Belle (reprise)”). O protagonista é sempre selecionado pelo vilão como instrumento ou “isca” para atingir seu objetivo (como Úrsula, Jafar e Scar fazem com Ariel, Aladdin e Simba) mas, ao contrariá-lo, acaba se tornando seu pior inimigo. Casualmente, ele encontra um companheiro de jornada (que também funciona como comic relief) e também um par romântico. Em determinado momento, o vilão obtém uma reviravolta e submete o herói, que consegue se desvencilhar com a ajuda do companheiro e enfrenta o vilão no confronto final. No final, necessariamente, o herói vence e conquista o par romântico (como Eric, Jasmine e Nala, respectivamente).

112 Curiosamente, o livro e o memorando foram inspirados no trabalho de Joseph Campbell sobre o monomito, que em si é uma análise estruturalista de mitos de diferentes culturas, imbuída de crítica à repetição industrial de fórmulas. Paradoxalmente, o teor crítico de Campbell foi apropriado por Vogler para desenvolver e reforçar a fórmula de estrutura narrativa.

f.: X2008n Narratologia
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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