As perguntas da filosofia são fundamentais porque remetem às questões essenciais da condição humana. A ~f é uma disciplina que encurrala, que incomoda e sufoca.
A primeira pergunta é de Heidegger[2] (1935): porque há algo, em vez de nada? É uma das perguntas definitivas, que são tais porque só o humano as faz. O ser humano sabe-se imperfeito no universo perfeito, um ser finito numa temporalidade infinita, e afrontar o sentimento de insignificância é a mostra maior de sua grandeza.
Diz Hegel que a terra é só um pedregulho girando ao redor do sol, mas nesse pedregulho há um ser metafísico que se pergunta pelo sentido do universo. Esse ser finito, falho, pequeno, mortal, cheio de angústias, destrutivo, autodestrutivo, mas que tem a grandeza de saber que morre, e mesmo assim seguir vivendo; e a grandeza de perguntar-se por tudo isso, pela totalidade, que é tudo que há.
Einstein disse que Deus não joga dados com o universo, mas, como disse Woody Allen, ele brinca de esconde-esconde. A ~f surge diante daquilo que Ingmar Bergman chamava o silêncio de deus. Deus está pavorosamente ausente das terríveis dores que assolam os homens.
Então, porque há filosofia? Porque há tudo que há, porque há ciência, arte, todas essas expressões pelas quais o homem tenta imortalizar-se, transcender-se a si mesmo. Tudo isso existe porque o homem morre, e não quer morrer, tem fome de imortalidade. O homem não nega a finitude, afronta-a perguntando porque, quando a angústia revela ao homem que seu destino é o nada, e o nada eterno [1].
Os livros de filosofia são escritos para pensar a sua situação no mundo, aqui e agora. Nosso pensamentos são situados, não podem ser de outro modo. E agora, porque se não o fazemos agora, não sabemos se o faremos depois [3].
Notas e adendos:
[1] "O melhor jazz diz: 'vamos viver para sempre, não acredite na morte'" (Bradbury, O zen e a arte da escrita).