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Modos diurno e noturno da imaginação


vb. criado em 28/05/2013, 20h07m.

Imaginação: uma forma de compensação para a finitude da vida [1].


Durand: (...) a imaginação simbólica é dinamicamente negação vital, negação do nada da morte e do tempo (...) uma “reação defensiva da natureza contra a representação da inevitabilidade da morte, através da inteligência”. (...) a função de imaginação é, acima de tudo, uma função de “eufemização” [...] toda a arte, da Máscara sagrada à ópera-cómica, é sobretudo iniciativa eufêmica que se insurge contra o apodrecimento da morte”

A eufemização se diversifica em Antítese (regime diurno) ou em Antífrase (regime noturno).

Regime diurno: representa o universo em termos de opostos, separações, cortes, distinções, /v. Dualidade/ do que decorrem as mais frequentes noções sobre Luz e Trevas, seja nas mais diversas mitologias, seja em contos populares e até mesmo nas culturas secularizadas, em suas imagens políticas e Ideologias. Leva a soluções como: a) Pegar as armas e destruir o Monstro (o monstro é a Morte, ou o tempo, que a ela conduz) (em imagens antitéticas como bem e mal, Cavaleiro e Dragão etc.) ou b) Criar um universo harmonioso no qual o monstro ou ameaça não possa entrar. As narrativas e representações prezam pela estrutura heróica, pela luta, pela vitória sobre o destino e sobre a morte. Seus principais símbolos são os de ascensão: ir para a luz e para o alto (símbolos espetaculares: luz, luminosidade). Igualmente, fala dos símbolos diairéticos (isto é, aqueles que se referem à separação cortante entre o bem e o mal. Espadas, Lanças, bastões /Bastão/ e outros apetrechos fálicos ou cortantes, são típicos) /v. Adaga, Faca/. Usa símbolos teriomórficos (isto é, os símbolos cujas representações são animais /v. Bestiário/), ou nictomórficos (relacionados às trevas, à passagem do tempo e à já mencionada relação luz-trevas/trevas-luz) e os catamórficos (referem-se às representações de “Queda”, expulsões, perda da imortalidade e distanciamento da divindade ou da Fonte – novamente uma dissociação entre uma instância e outra, uma polarização).

Regime noturno: une opostos, concilia, representa a “descida” interior em busca do conhecimento /v. Katabasis/, como nos mitos ctônicos e seus mitemas de morte-renascimento, ida aos Infernos e salvação final etc. É também o regime do tempo cíclico, dos fins e recomeços. Conduz a c) Ter uma visão cíclica do tempo no qual todo fim é também um começo. Tem como ponto fundamental todas as noções e imagens sintéticas e místicas que indicam, de um modo ou de outro, uma espécie de retorno às origens, mas também a anulação do tempo, com a imbricação do nascimento na morte e desta no primeiro. Assim, o que se tem é uma visão homeostática do universo, em que caos e ordem, entropia e informação atuam juntos num processo organizado e ininterrupto. A estrutura mística consiste na construção de harmonia, evita a polêmica, relaciona-se à procura da quietude, aos símbolos de inversão e símbolos de intimidade. Estes dois últimos referem-se ao Útero, ao recolhimento, ao “arrependimento” e aos retornos e reconduções às Fontes (origens, ancestralidade, o berço, o enterro, a circunscrição, o fechamento etc.). A estrutura sintética do regime noturno é representada por ritos que asseguram os ciclos da vida, pela harmonização dos contrários numa espécie de processo de reequilíbrio entre forças conflitantes, porém, complementares. As noções dos estágios da Alquimia medieval, do ponto inicial até a Conjunctio (o “Casamento alquímico” ou a cessação mítica dos conflitos). Trata-se de uma tendência a esquemas teleológicos ou aqueles com seus fins e recomeços, a reversibilidade e a androginia – a cessação definitiva dos conflitos /v. Rebis, Andrógino/.

Em Promethea há imagens dos dois regimes. Numa estrutura simbólica como a Árvore da vida, percorrer a árvore é regime diurno: um esquema ascensional em direção à luz. Noutra vertente, há modo noturno numa representação do universo cuja finalização pressupõe a cessão dos conflitos, o suplantar do tempo e a noção de recondução à fonte.

~C010i

[1] Porque há filosofia? Porque há tudo que há, porque há ciência, arte, todas essas expressões pelas quais o homem tenta imortalizar-se, transcender-se a si mesmo. Tudo isso existe porque o homem morre, e não quer morrer, tem fome de imortalidade. O homem não nega a finitude, afronta-a perguntando porque, quando a angústia revela ao homem que seu destino é o nada, e o nada eterno (Feinman, Por quê há filosofia?). E também "O melhor jazz diz: 'vamos viver para sempre, não acredite na morte'" (Bradbury, (O zen e a arte da escrita).
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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