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Amnésia


vb. criado em 24/05/2013, 20h19m.

n. ed., v.: Eliade, Mito e realidade:

76 O mito do salvador salvo. O motivo central de várias lendas é a Amnésia-cativeiro causada por uma imersão na vida, e a anamnese produzida pelos sinais e palavras enigmáticas de um discípulo.

77 a literatura indiana usa imagens de amarração, acorrentamento, cativeiro, ou de esquecimento, ignorância, sono, para significar a condição humana. /104.

78 os deuses caem do céu quando a Memória lhes falta ou se confunde: caem e se tornam homens; os deuses que não esquecem são eternos, imutáveis. /105

79 A situação do Self: enredado nas ilusões criadas por sua existência corporal, o self (âtman) sofre as consequências dessa ignorância até sua libertação (mukti), que é só uma tomada de consciência da sua liberdade eterna: o engajamento no mundo era só aparente. /106

80 o despertar é dilacerar o véu de [Maya]. Buda = desperto, possui a onisciência absoluta. /107

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Há continuidade entre as crenças populares e as especulações filosóficas. Mnemosine, personificação da memória, é mãe das Musas, e é onisciente: conhece tudo que aconteceu desde as origens. quando o poeta é possuído pelas musas sorve diretamente desse conhecimento. O passado assim revelado é mais do que o antecedente do presente, é sua fonte: a rememoração no só situa os eventos num quadro temporal, mas atinge as profundezas do ser, descobre a realidade primordial da qual proveio o cosmo, e que permite compreender sua totalidade; as realidades originais são fundamento do mundo. A inspiração do poeta é como a evocação de um morto desde o mundo infernal, ou uma descida do poeta ao Inferno /Katabasis/ para apreender o que quer conhecer. Mnemosine concede ao poeta um contato com outro mundo, a possibilidade de nele entrar e sair livremente. O passado surge como uma dimensão do além. /108

82 A fonte de Letes /O rio leto/ integra o reino da morte, os mortos são os que perderam a memória; quem conserva sua memória após o trespasse não está morto. A fim de tornar seu filho Etalide imortal Hermes lhe concede uma memória infalível. /109

83 Quando vem a doutrina da Transmigração, a mitologia da memória muda, a função do Letes é invertida: faz os mortos esquecerem suas encarnações anteriores, quando vão reencarnar. o esquecimento não simboliza mais o retorno à morte, mas o retorno à vida. /109

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Letes é impotente face alguns privilegiados, os que são inspirados pelas musas (profetismo ao inverso) e recuperam a memória dos eventos primordiais (lembram as origens de tudo), e os que conseguem recordar suas existências anteriores (Pitágoras e Empédocles) (lembram a história pessoal). Quem supera o esquecimento supera a morte. /110

85 Lembrar a própria história fragmentada em inúmeras encarnações visa unificar os fragmentos numa só trama para descobrir o sentido do seu destino. /111

86 Para Platão aprender é rememorar: entre duas existências terrestres a alma contempla as Ideias, compartilha do conhecimento puro e perfeito, mas ao reencarnar bebe da fonte do Letes e esquece. O conhecimento fica latente no homem encarnado, e pode ser rememorado pelo esforço filosófico; os objetos físicos ajudam a alma a recolher-se dentro de si mesma e ‘voltando atrás’ reencontrar e recuperar o conhecimento. /111 (o mundo platônico das ideias se assemelha ao inconsciente coletivo de Jung). /112

87 Para platão o esquecimento não é parte da morte, mas da vida, voltar a vida faz esquecer, não as existências anteriores, mas as verdades transpessoais e eternas; a anamnese não recupera eventos, mas verdades. /112

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porque [Hipnos] é irmão de [Tanatos], na Índia e na Grécia, como no gnosticismo, a ação de Despertar tem um significado soteriológico. Alguns dos motivos gnósticos mais populares envolvem queda, captura, abandono, nostalgia, entorpecimento, Sono ou Embriaguez (para indicar a existência terrestre, a condição da alma encarnada, que esqueceu sua origem e natureza sagradas, seu verdadeiro centro, seu ser eterno) e do despertar para indicar a anamnese, o reconhecimento daquela origem e natureza sagradas. Ou seja, fora a figura da embriaguez, a existência terrestre (isto é, a vida), recebeu todas as características que no passado eram imputadas à Morte /115.

90 Talvez por isso a vitória sobre o sono e a capacidade de vigília prolongada são tradicionais provas iniciatórias /116.

ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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