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A religião grega



index do verbete

I CRENÇA, MITOLOGIA E LITERATURA.

1 Dois erros fundamentais: a) confundir religião com mitologia; b) buscar a religião principalmente na literatura. [Heródoto] e Hesíodo nunca escreveram livros sagrados /13.

2 Evemerismo: Evêmero, 340-260 a.c.. Na ilha Panchaia há, no templo de Zeus, uma estela com a lista de Reis antigos que se sucederam cada um se rebelando contra seu pai. Os deuses seriam reis de outrora cujos feitos se converteram deformados em mitos. Evemerismo é tentativa de reduzir mitologia a deformação da história. (3]

3 O mito é um meio de explicar um rito. Um relato destinado a dar, seriamente ou não, o porque de um costume, que pode até ser profano, mas geralmente é cultual. O rito é a origem do mito. (6]

4 Lendas de Heróis são criadas quase totalmente a partir de relatos baseados em atos cultuais. As pessoas divinas são essencialmente ídolos e a Estátua de culto não é uma representação, mas o próprio deus. Por isso guerreavam pela posse de estátuas, algumas ditas caídas do céu, que eram Talismãs. Antes mesmo de aprenderem a talhar, captou-se nas Pedras brutas o sagrado (argoi lithoi, veneráveis ancestrais das estátuas). É preciso fixas as influências invisíveis boas por meio de estátuas ou destruir as más jogando as efígies no fogo.

Sócrates foi condenado não por não crer nos mitos sobre os Deuses, mas porque punha em perigo os cultos, os ritos que protegiam a cidade contra as catástrofes. (8-9]

5 “Enquanto as mais belas invenções da mitologia viram-se logo abaladas pelas reflexões mais elementares dos primeiros filósofos, o paganismo propriamente dito permaneceu inabalável durante toda a Antiguidade (e ainda o é), ou seja, foi a religião de camponeses convencidos de que o não-cumprimento dos ritos significa a perda das colheitas, epizootias, fomes” (10]. Há grande liberdade de pensamento e imaginação sobre a vida dos deuses, mas os atos de culto se mantém imperturbavelmente: o rito é o essencial para o povo. /14.

6 Para outros povos e religiões, os deuses estão sempre ligados a uma de três funções sociais importantes para a organização social, soberania/sacerdócio, guerra e produção. Na Grécia não é assim, seus deuses não são inclinados à especialização, tratam de todas as funções.

7 Características da religião grega: ausência total de dogma ou doutrina, de clero como classe social, de livro sagrado (12-13].

II SANTUÁRIOS E RITOS

1. Traduziu-se indiscriminadamente [Hiéron], [Temenos] e naos como Templo, mas só a terceira indica edifício de função religiosa.

2. [Naos] é o prédio onde mora o [Ídolo], a Estátua, que é o próprio deus. /17

3. Temenos e hiéron(=santo) são o terreno com tudo que encerra, e que é propriedade do deus: o santuário.

4. se o santuário é arborizado chama-se alsos.

5. nada mais enganador que aproximar religião grega com romana. /19

5. a parte mais importante do santuário não é o templo, mas o Altar, porque o Sacrifício é o ato mais relevante do culto: o santuário pode não ter templo, mas tem altar. /20

6. há dois tipos de altar, conforme a natureza do sacrifício.

7. o primeiro tipo de Sacrifício - que é o essencial da oferenda - é constituído da [Fumaça que sobe para os Deuses de cima, as potências celestes, olímpicas, uranianas (como em 'os pássaros' de Aristófanes).

8. aqui, o fiel fica sobre uma plataforma (prothysis) onde o animal é degolado; há uma construção elevada chamada eschara ou lateira, que queima apenas uma parte da vítima para que a fumaça alegre o deus. o resto da vítima é comido. esse tipo de altar é chamado bômos /22.

9. no segundo tipo de sacrifício, destinado aos deuses de baixo (os deuses infernais, ou os mortos, ou os heróis), o essencial é o Sangue (ou qualquer oferenda líquida) que deve penetrar no solo e suas profundezas. /21/. Para esse tipo usa-se um fosso (bothros) onde se derrama o sangue, outro onde se queima inteira a vítima (eschara). O conjunto é isolado por muro

8. o sacrifício para os deuses Ctonianos (ctoniano é tudo que tem relação com a terra, chton), inferiores, partem da ideia religiosa de que tudo relacionado à morte é impuro, imundo, contém miasma a eliminar. o sacrifício é uma eliminação de sujeira: carrega-se o animal de sacrifício com essa sujeira de que se pretende desfazer-se destruindo-a. Normalmente esse sacrifício é feito em segredo /24/, ou só com testemunhas ritualmente preparadas.

9. Os deuses representam um papel menos importante que os mortos nesse rito, que foi criado não pelo medo da Morte em si, mas daquilo que ela pode trazer de imundície aos vivos.

10. Quanto aos deuses de cima, em princípio só recebem a carne não consumível, e, quando se dão os Ossos, dão-nos brancos, sem carne nenhuma /24/. Come-se carne quando há sacrifício, apenas. Supõe-se que o que se dava aos deuses era consequência do modo regulamentar de cortar a carne e eliminar os dejetos pelo Fogo /25/. Thysia significa sacrifício mas também festa religiosa. Quanto mais festas, mais dias em que se come carne /30/

11. Assim, no sacrifício ctoniano a ideia religiosa é a original, e no sacrifício celestial a ideia religiosa só veio depois, como consequência /25.

12. Festa Dipolies, de zeus protetor da cidade: espalhava-se o trigo e soltava-se um boi para comê-lo; enquanto ele comia, um sacerdote (membro de uma família de sacerdotes hereditários) o matava a machadadas, e fugia, largando o Machado; instituía-se um processo para julgar o machado, que era condenado a ser jogado fora do país. /26.

13. A religião grega também admitia o sacrifício humano, de cativos, normalmente em honra a mortos ilustres /26.

14. Em Esparta havia um rito no santuário de Ártemis: a sacerdote segurava o ídolo, que se cria caído do céu, enquanto fiéis (rapazes do serviço militar, certa época) eram açoitados; para encorajar os verdugos a sacerdote dizia que a estátua estava ficando pesasa, ia cair, o que causaria calamidades /27/.

15. Também em Atenas se conduzia um casal (prisioneiros certamente) por todo o território, para impregná-los com toda impureza, e depois os expulsavam da Ática; supõe-se que no passado isso terminava com a morte e não exílio dos supliciados, que eram chamados, alás, pharmacoi /28/.

16. Para certos heróis, como Héracles, cabem os dois tipos de sacrifício, porque é ao mesmo tempo um morto e um deus. Exceto os deuses exclusivamente ctonianos, como Hades, os demais, olímpicos, também tinham traços ctonianos, especialmente zeus. Não existiam deuses exclusivamente uranianos. De forma que podiam receber os dois tipos de sacrifício. /29/.

17. As cidades gregas nunca tiveram um calendário uniforme. Tentativa de corrigir a defasagem entre os meses, que são lunares, e o ano, que é solar (v. [Mês], [Ano], Lua, Sol). Normalmente todas cidades tinham uma festa, Antestérias, para assinar o renascimento da vida e da Vegetação: inauguração do ano natural (fevereiro/março(. O rei preside essa festa, que é ligada a Dioniso /30/. A festa dura 3 dias,o 1º é da abertura dos jarros, o 2º de beber o vinho e concurso de bebê-lo; também havia a procissão; o 3º dia era de luto. Nesse dia ferviam-se grãos para servir aos mortos, que só nesse dia tinham licença de andar por toda parte, e eram expulsos ao final. /31/

18. A procissão era o ponto mais importante: análoga a Casamento conduzia o rei e uma mulher, que faz o papel de rainha na festa, até a 'casa do vaqueiro', onde, identificados ele como o deus-Touro e ela como deusa, faziam uma Hierogamia, para assegurar a feretilidade da terra por um ano /32/.

19. Há muitos ritos nos quais um personagem desempenha o papel de um deus, e não só representa, mas é, na cerimônia, o próprio deus. Por isso muitas festas deram origem a representações dramáticas. /33.

20. As festas compõem-se de sacrifícios, cânticos, música, e danças. /33

21. Diz um mito que Teseu, para comemorar a morte do Minotauro, instituiu uma festa contendo uma dança que imitaria/reproduziria os circuitos (periodoi) e saídas (diexodoi) do Labirinto, segundo um movimento (rythmos) com aternâncias (parallaxeis) e desdobramentos (anélixeis). Talvez tenha ocorrido o contrário: o mito do labirinto foi inventado para explicar a Dança, que teria significado lustral e servia para purificar um local de culto. Homero também descreve uma dança representada no escudo de Aquiles /34-5/.

III O PURO, O IMPURO, OS MISTÉRIOS, O TRÁGICO

22. Há estreita relação entre limpeza material e pureza em geral. Na entrada de muitos santuários havia uma pia, que servia para uma Ablução, ainda que rudimentar. Mas certos ritos exigiam Banho prévio. /36.

23. É quase certo que para entrar no santuário o fiel tirava os calçados.

24. Alguns santuários ou cerimônias são exclusivos de um sexo.

25. A abstinência sexual, de duração rigorosamente definida, era exigida para certos santuários ou ritos. /37

26. Tudo que se referia a [Nascimento] ou Morte era impuro e tinha de ser purificado. Era proibido nascer ou morrer em [Delos]: se ocorria, um sacrifício purificador era necessário /37-8.

27. O culto começa com lustração do altar: gira-se/roda-se em redor dele, ou do lugar a ser purificado. Mais geralmente são movimentos em circuitos de sentido alternado. /38

28. A sujeira também tem papel importante nas tragédias: o Herói trágico é um Bode expiatório. /38

29. O Septérion, festa que ocorria a cada 8 anos em Delfos, conforme [Plutarco]: é a imitação da morte de [Píton] por Apolo: um jovem que tem pai e mãe vivos (não está sujo de luto) representa Apolo entra numa cabana que representa o antro de Píton e o mata; depois, assiste aos funerais, presididos pelo filho do morto, Aix (quer dizer Bode ou Cabra); ou seja, um cortejo conduzido por um bode expiatório, ou uma Tragédia (canto por um bode) /39.

30. Os mistérios de [Elêusis]. O caráter secreto visa evitar o contágio das imundícies que voga nos lugares onde há contato com mortos (mas há quem diga que o segredo era a sabedoria antiga do povo vencido, que não queria compartilhá-lo com os conquistadores gregos). A ideia de cuidado no contato com mortos preside a conduta de Ulisses, que vira a cabeça ao sacrificar para os mortos, de perseu que não olha para a Górgona ao matá-la, de Orfeu que não deveria olhar para dentro do Inferno. Tudo que é funerário, agrário, ctoniano é sujo, perigoso. /40-1.

31. Os mistérios começavam com explicação dada por mestres aos candidatos. Depois os objetos sagrados (não se sabe o que eram) eram levados por soldados de Atenas até o santuário em Elêusis (20 km. +ou-). Depois os candidatos se purificavam em banho de mar, e cada um sacrificava um Porco. Depois, procissão ao som de Iacchos, que era um grito, e esse grito tornou-se um deus, cuja estátua era conduzida (não se sabe como se parecia); no curso da procissão, perto de uma ponte, os candidatos sofriam um ataque simulado de atores emboscados, que simulavam combate e diziam graçolas. /41-42

32. Sobre o que ocorria dentro do templo pouco se sabe. Parece que os candidatos ficavam muito tempo, caminhando num labirinto e sendo atacados aparições apavorantes; a luz se acendia bruscamente; depois, havia uma contemplação, não se sabe do que. /43

33. Devia haver uma Hierogamia entre o Hierofante e uma sacerdotisa. Um dos gritos que se sabe acompanhavam o rito (Hué Kué) é uma exortação à fecundação e à concepção) /44.

34. No mito de Perséfone, Deméter, enquanto procura a filha, hospeda-se no palácio do rei Celeu, e, para agradecer, quis tornar o príncipe imortal: toda noite se levantava escondida e mergulhava a criança no Fogo; certa noite foi surpreendida e expulsa aos gritos pela rainha. Supõe-se que o mistério consistia na certeza de vida feliz no além, se a fé fosse absoluta, e provada no decurso da Iniciação. Provavelmente o rito incluía uma prova de coragem diante do fogo. /45.

35. A concepção da imortalidade não era moral, mas ritualista: não dependida de uma conduta edificante nesta vida a sorte da alma pós-morte. A principal recomendação era sobre a topografia infernal: saber escolher entre a fonte da Memória e a do Esquecimento (v. O rio leto, Amnésia), situadas uma à Direita e outra à esquerda de uma certa Encruzilhada. A pureza do iniciado não é moral, é pureza ritual. /46

IV DA PRECE AO EX-VOTO, TESOUROS E OFERENDAS

36. O texto da prece nunca foi padronizado. Mas a atitude parece que sim, é fixa: os deuses c/ um ou dois braços erguidos, o fiel de pé ou prosternado e tocando os joelhos do ídolo. Nunca a postura do fiel é ajoelhada. /47

37. Em muitos santuários acham-se ex-votos, monumentos às vezes suntuosos, chamados Tesouros, que se pareciam com templos mas não eram locais de culto: só abrigavam as oferendas. O santuário se tornava museu de arte e arquivo histórico, retratando as vitórias em batalhas, por exemplo. /48

38. Pelos textos/imagens dos ex-votos parecia haver 3 tipos de prece. Uma que é pedido de proteção propriamente. Outra, que é para reparar um mal causado a um deus ou homem. O terceiro exprime ideia de uma prece próxima da magia, dotada, pelo simples fato de ser proferida, do poder de realizar algo inexorável, como uma maldição: há tabuinhas invocando contra certa pessoa uma vingança, por exemplo. Ou atrai-se para si mesmo força para cumprir um juramento ou receber uma benção. /49.

V ASILOS

39. O valor sagrado do chão do santuário faz com que alguém possa se refugiar ali e ficar seguro até contra o rigor da lei. Mas esse caráter de asilo não era pacífico, dependia de acordos entre as cidades. O fato é que não se podia deixar morrer o exilado no templo, porque criaria miasma, e o miasma pode causar peste ou fome. Muitos escravos obtinham a liberdade pedindo asilo em santuários. /50

IX CONCURSOS GÍMNICOS E MUSICAIS

40. A maioria das festas continha jogos (concursos) de canto coral, música instrumental (cítaras ou Flautas), provas gímnicas ou atléticas. A origem do costume pode estar em que o sepultamento dos mortos mais gloriosos eram o motivo dos maiores ajuntamentos populares. Daí provavelmente nasceram os jogos olímpicos /52.

41. Em Neméia faziam-se concursos em honra ao pequeno Ofeltes, morto por uma serpente quando sua mãe o deixara no chão para apanhar água na fonte. Perto de Corinto um culto de Poseidon começou com um culto funerário em memória de Palêmon, filho de Ino que, numa crise de loucura, jogara-se ao mar junto com a crianconta corrente /53.

X Hermes

42. Hermes veio provavelmente de herma, que é uma pedra, uma pilha de pedras ou um pilar de pedras. Hermés é um pilar que pode ter um busto, de Hermes ou outro deus, o alto, e tem numa das faces um Falo. Faziam-se marcos de pedras para orientar os viajantes. Daí veio a recomendação de cada um que passava acrescentar uma pedra ao monte, para reforçar o sinal. Daí se passou a incentivar a ideia de que o gesto atraía boa sorte ou conjurava má-sorte. E daí é fácil chegar à ideia de que o monte de pedras é mágico, é um deus, com quem é preciso conciliar-se. Com o tempo acaba-se por dar nome e imagem a esse poder invisível. O gesto de deixar oferendas alimentares junto ao marco, para alimentar algum passante, torna-se oferenda ritual. O culto nasce de um costume utilitário. /56-58

43. Pedras não trabalhadas foram a primeira forma de deuses para todos os gregos. /59

XI Atena

44. Em seu aspecto completo Atena tem perto de si uma Serpente, está armada, rígida. Deve ter surgifo de um [Troféu] um suporte em forma de Cruz sobre o qual se põe, no alto, um [Elmo], à direita uma Lança, à esquerda um [Escudo]. /60

45. O troféu é erguido no campo de batalha com o amontoamento das armas inimigas capturadas no lugar onde se obrigou o inimigo a dar meia-volta (tropé). Não se usam essas armas, porque armas inimigas têm miasma e dão má-sorte. O troféu é um espantalho, tem função profilática, visa assustar o mal. Por isso se acrescentam a ele - depois que foi estilizado para ser composto de uma só armadura - a cabeça da Górgona e a [Égide]. /60-1

46. A égide é originalmente uma pele de cabra ou bode usado para purificação; então depois se podia usar só a pele para impregnar de imundície a eliminar. E tudo que serve para isso pode ser [Espantalho]. /61/

47. O Gorgonêion, cabeça sem corpo que serve de espantalho para malefícios, aparece em documentos mais antigos que a representação de Perseu matando a Medusa /62.

48. Atena é acúmulo de fetiches assustadores para afasta as más influências, função apotropaica, preservadora, noção religiosa fundamental. /62

49. Um dos epítetos de Atena, tritogênia, filha de 3ª geração, implica em ser ela filha ideal, porque nasceu sem mãe, resolvendo de maneira ideal o que sempre foi o sonho irrealizável dos homens: ter filhos sem precisar das mulheres /64.

50. Em outubro celembravam-se as Oscofórias, em honra de Atena, festa da vindima. Dois rapazes vestidos de mulheres carregam cerimonialmente sarmentos de vinha (disfarce p/ enganar os gênios do mal capazes de exercer sua influência no domínio sexual). /71

51. O mito de Atena deusa da Oliveira talvez seja a incorporação de uma antiga religião da árvore, de origem minóica /68-73.

52. em certa altura ocorreu o sinecisma, evento histórico atribuído a Teseu e que reuniu numa só Atena todas as deusas adoradas em diversas aldeias. /80

XII Ártemis

52. Ártemis pode vir de Artos (ursa), uma deusa celto-danubiana; ou pode ser uma antiga deusa mediterrânea/oriental que era representada segurando suspensos um leão em cada mão. /75

53. Virgem caçadora que percorre a mata com um bando de companheiras também virgens, severa quanto ao contato com homens, polimastia (multiplicidade de seios). /75

54. Construiram lendas para relacionar entre si diversas deusas pré-helênicas locais. /77

55. Tornada deusa de fertilidade, Ártemis tornou-se infernal ou passou a ter atribuições do mundo dos mortos, e foi reverencida em santuários onde havia Boca do Inferno: as grutas /v. Caverna/ ou fendas no solo eram considerados locais onde se estabelecia comunicação com o mundo dos mortos, e são, asism, lugares de predição, onde se pode pressentir o sagrado antes mesmo de adorar deuses individualizados. /77

56. O principal altar de Delos, o Kératon, era feito dos Chifres entrelaçados das Cabras montesas que ela caçava. /79

57. Em Brauron sacerdotisas adolescentes vestidas de cor de Açafrão (para parecerem ursas) /v. Urso/ desfilavam em procissão a cada 4 anos, após os ritos de passagem. Outro rito consistia em fazer correr o sangue arranhando o pescoço de um escravo, reminiscência do tempo em que a deusa exigia sacrifício humano /81.

XIII Hécate

56. Hécate: parece ter tido papel secundário, mas Hesíodo dá a ela papelo imenso, universal, deusa de tudo, um zeus feminino. Mas isso é duvidoso, talvez fosse um texto de santuário e em seu santuário cada deus é considerado onipotente e cantado como tal. /78

57. Era tripla, três corpos de mulher reunidos pelos Ombros, rostos em 3 direções, indicando ser um culto das Encruzilhadas. Deusa dos terrores noturnos, dos encontros sinistros com Fantasmas. É deusa de morte, cujo culto visa eliminar a oxythymia (irritação dos mortos, miasma da morte). /78

XIV Poseidon

58. Poseidon era o grande deus do Peloponeso e Grécia central, gaiavochos (que move a terra, causa terremoto); não era marinho apenas, e seu tridente era arma de expelir raios, como os de Zeus. O nome Poseidon indica esposo da senhora da Terra /87.

XV Afrodite

59. Afrodite veio certamente do oriente, é a Ishtar dos babilônios e a Astarte dos fenícios, veio de Chipre, e em Pafo era adorada sob a forma de um objeto cônico (v. Cone) não antropomórfico.

XVI Hefesto

60. Hefesto veio de Lemnos, dos pelasgos, seu atributo é o fogo, e o nome significa acender o Fogo.

XVII Ares

61. Ares significa infelicidade /91.

62. Havia um rito comum de Ares e Afrodite, homens e mulheres travestidos para conjurar as influências nefastas contra o ato sexual. /91-2.

63. A parceria entre eles se justifica porque como ela é inconstante nas questões amorosas, Ares, que personifica o combate guerreiro no que ele tem de imprevisível e ininteligível, também muda de campo continuamente. /93.

XVIII Dioniso

64. Dioniso absorveu o culto de um curador e adivinho, Melampous ( Preto). /96.

65. Era muito popular, amado pelos pobres, cujas alegrias elementares ele exaltava, seus seguidores formavam confrarias de boieiros, adoradores pastorais do deus-Touro, criadores dos bacanais e da poesia bucólica. O rito consistia em perseguir um touro pelos campos, capturá-lo, degolá-lo e beber-lhe o sangue, cortar e comer as carnes cruas. O touro é o próprio deus, e o fiel o come, consumindo-o em plena onipotência, consumo de substância divina. /98.

66. Era popular entre as mulheres. Menadismo, coro das mênades, mulheres presas da mania, a loucura divina. Por isso substitui-se o touro pelo Bode, cabrito ou corço. O bode (tragos) dá nome ao tragicos tropos, a variante trágica ou caprina do ditirambo, isto é, o canto coral que acompanha o rito. Já o cômos, o cortejo petulante de bebedores camponeses, dá origem à Comédia /98 .

XIX Omphalos

67. O Ônfalo é dionisíaco e apolíneo ao mesmo tempo, pois os dois deuses compartilhavam o santuário. O ônfalo era primeiramente do culto da deusa terra, aparentado do Falo. Só posteriormente se interpretou a expressão como umbigo ou Centro do mundo, e se criou a lenda das duas Águias, que, soltas nas extremidades do mundo, vieram encontrar-se no meio dele para depositar o ônfalo. /99.

XX Hera

68. Hera é feminino de herói, quer dizer senhora, é uma senhora das feras, herdeira da grande Mãe pré-helênica. Honrada em ritos secretos de hierogamia, como em Samos, onde se fazia a recuperação anual da virgindade, num rito que usava o caule da pimenta-selvagem, arbusto antiafrodisíaco usado nos ritos de abstinência. /101.

69. A religião grega é seguramente o produto de um encontro entre noções nórdicas e mediterrâneas. A ideia de um deus todo=poderoso que reina sobre céus e tempestades é a contribuição nórdica, e a mediterrânea é a da deusa da fecundidade onipotente. /102.

XXI Zeus

70. Zeus é originalmente zeus capotas, ou cabbatas, o que cai do céu como raio; os lugares onde ele cai são sagrados, Cercados por muro sem Porta. Quem é fulminado é honrado como herói.

71. Zeus tradicionalmente é associado a pássaros, como elementos fálicos: se disfarça em pássaro para possuir mulheres. Associação do Pássaro ao Falo, havendo inclusive falos alados /102-3.

72. Em Chipre, associado a dione, zeus recebe função oracular, porque ali havia um oráculo dessa deusa ctoniana muito antiga, e um Carvalho de farfalhar profético, e um colégio de sacerdotes que adoravam a terra a ponto de dormirem no chão e de nunca lavarem os pés para não se desfazerem da sujeira. /103.

73. O nome de Zeus era dado a qualquer presença divina ainda não definida. Sua personalidade foi absorvendo caracteres novos e sua lenda se enriquecendo a partir de divindades locais preexistentes, segundo a lei comum de todas as divindades helênicas /104.

74. O grande altar de Zeus em Olímpia é feito unicamente de cinzas coaguladas pelo sangue das vítimas. /104.

75. Em Delfos uma Pedra não trabalhada, que recebia culto no santuário da terra, e era envolvida em tirinhas como homenagem, serviu para inspirar o mito de que Réia deu a Cronos para comer uma pedra envolta em cueiros, que ele pensou ser o filho recém nato /104.

76. O teatro nunca mostra Zeus, para induzir a ideia de que ele está em toda parte. /112.

77. Supõe-se que a assembleia de deuses no olimpo foi inventada à imagem da organização política imposta por Agamênon na época micênica /105.

XXI Principais momentos do pensamento religioso

78. A visão que Homero tem dos deuses não é a dos gregos de seu tempo, é só a nossa, que acostumamos a ver a grécia com os olhos dele. /107.

79. Os deuses de Homero são livres, mas na verdade a liberdade de um deus termina onde começa a de outro. O destino é concebido como uma moira, uma partilha, há medidas rígidas. /107.

80. A virtude da hospitalidade é a base de qualquer moral e da própria civilização. Venera-se no estrangeiro o zeus hospitaleiro, e daí surge a ideia de que em qualquer homem se pode venerar um deus. /108.

81. Hesíodo em ‘Os trabalhos e os dias’ cantou 30 mil deuses inspetores que percorrem incógnitos o mundo à espreita dos erros dos homens. /108.

82. ‘Nunca se deve opor pensamento mítico e pensamento racional, já que o mito, explicativo por natureza, quer já satisfazer à razão. O que se deve opor é pensamento mítico e pensamento científico, pois o mito se satisfaz com a explicação simples pelo simples fato de ela explicar, ao passo que, em razão disso mesmo, a ciência desconfia dela” /109.

83. A ideia de deuses mais fracos que destituem os pais, deuses mais velhos e fortes, veio da mesopotâmia e dos hititas para a Grécia /108.

84. Pitágoras: prova que Os números, como deuses, reinam sobre a natureza. Descobrir a eternidade pelo inteligível torna Pitágoras precedente de Platão e lhe dá um acento religioso antes desconhecido. Suas ideias foram favorecidas pela política porque serviam ao interesse da aristocracia. Difundiram-se e foram manipuladas, e misturadas com ideias de outros, e obteve influência ampla e durável. Levou à ideia da metempsicose (consequência da imortalidade da alma), levando à interdição de comer carne, ofertar sacrifício sangrento ou vestir lã. /110.

85. Na outra vertente caminhava o Orfismo (v. Orfeu), propagado sobretudo nos meios populares, divulgando fórmulas mágicas. Concentrava-se nas relações com o além-túmulo, bocas de inferno (v. Boca do Inferno), descidas e ascensões, noção do Ovo primitivo, a geografia do Inferno e os conselhos práticos para chegar até lá, uma concepção panteísta (v. Panteísmo de zeus) /110-1.

86. Paralelamente vicejava o xamanismo: Epimênides de Creta, Onomácrito, Pisístrato. 111.

87. No séc. VI a.c. enorme influenciada religião de delfos, que orienta a expansão territorial e habilmente se alia aos cultos locais, subordinando-os; e propaga a filosofia dos Sete Sábios, que se resume a exortar o homem a nunca ultrapassar seus limites, a não ser descomedido /112.

88. [Píndaro] depura os mitos que atribuem aos deuses costumes antropófagos. E Ésquilo realiza a mais profunda transformação do politeísmo e lhe dá uma forma /112.

89. Os mitos revistos com liberdade e prudência conservam a visão das violências acabadas, sem a qual o direito nascente seria menos verdadeiro. Zeus, depois de abusar do poder novo contra Prometeu, torna-se deus de justiça. A doçura das [Eumênides] não esquece seu passado sinistro. E ‘o que torna tudo isso digno de fé e fervor é que esses dramas míticos são um drama vivido, a própria vida do povo ateniense, que elabora, de Sólon e Efialtes, em maus de um século, a substituição de um direito que usava fórmulas mágicas conhecidas de poucos por um direito fundado em leis racionais e conhecidas de todos: passagem difícil de uma [Têmis] que lapida os malditos a uma [Diké] que julga responsáveis /113.

90. Séc. V a. C., os sofistas, ceticismo e negação. Protágoras: ‘impossibilitado de dizer se os deuses existem ou não existem, pois falta a verificação experimental e a vida é muito curta’. Crítias, um dos 30 tiranos, atribui a invenção dos deuses aos móbiles dominadores de um governante primitivo /113.

91. Séc. IV a.C., Platão, a substituição da salvação da cidade pela da alma como finalidade da vida. Tomou emprestado aos mistérios o cenário de sua Escatologia. Tornar-se semelhante a deus na medida do possível, infundindo em nossa vida terrestre o máximo de eternidade, pela contemplação do Imutável (renovando ideia de Pitágoras) /114.

92. Humanizar o divino, divinizar o humano, é parte do milagre da religião grega.

Bibliografia

Robert, F. (1988). A religião grega. São Paulo: Martins Fontes. Trad.: Antonio de Padua Danesi.

19/04/2013 09:55
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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